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"Não há mercado para o cartoon em Angola"

Entrevista a NELSON PAIM

Um cartoon em forma de quebra cabeça é o ideal para ilustrar a actual situação económica e financeira, segundo Nelson Paim. O cartoonista, que conta com três livros no mercado, prevê lançar mais um e realizar uma exposição para celebrar os 10 anos de carreira.

Quando e como encontrou a sua identidade artística?
Desenho desde criança. Há 22 anos que me dedico ao desenho, até me tornar o artista profissional que sou hoje.

Como o humor entrou nos seus desenhos?
Comecei a fazer desenhos humorísticos em 2009, como forma de ter mais liberdade criativa e ganhar identidade como profissional, mesmo sabendo que estava a fazer um estilo de arte muito fora do comum e sem mercado e oportunidades no nosso País.

Comemora agora 10 anos de carreira. Que balanço faz?
Quando comecei, as pessoas estavam contra a minha ideia de fazer ou lançar um livro de caricaturas. Os mestres das artes em Angola, os que fazem banda desenhada, jornalistas, empresários e a sociedade, em geral, achavam que eu não teria bons resultados pelo facto de desenhar os rostos dos nossos famosos. Foram momentos difíceis para a carreira que traçava. Mas, assim como o personagem John Rambo, entrei nessa missão difícil e hoje faço um balanço de uma missão cumprida.

Para quando o lançamento do próximo livro. E qual é o título do livro?
O livro será lançado este ano, mas ainda sem previsão de data. Será um livro interessante e com caricaturas diversificadas feitas a lápis de carvão, a cor digital e a óleo sobre tela. Serão incluídas também caricaturas feitas há 10 anos. O título do livro é "10 anos de caricaturas em Angola".

Que temas mais aborda nas suas obras e porquê?
Tento dar a conhecer um pouco do que o País tem de melhor, em relação ao trabalho feito pelas nossas figuras públicas. Não é preciso ser uma pessoa culta para entender uma caricatura, até porque é um estilo de desenho, acompanhado ou não de legendas. Temos poucos leitores, e as caricaturas têm a capacidade de atrair pessoas para a leitura.

Quem são as suas referências a nível nacional e internacional?
A nível nacional, é o mestre e o mais velho Horácio da Mesquita. A nível internacional, o brasileiro Tiago Hoisel, Lucas Leibolz e o alemão Sebastian Kruger.

O cartoon é rentável? Consegue viver da sua arte num país em crise?
O artista, em geral, em Angola tem passado muitas dificuldades. Fica pesado viver desta profissão. Mas, apesar de tudo, é um trabalho rentável para cada um de nós, alguns conseguem mesmo viver deste trabalho, assim como eu, que vivo da caricatura nestes 10 anos. Porque tenho feito uma gestão muito criteriosa com o que ganho, criando planos a longo prazo e projectos que podem beneficiar outros no futuro.

Que mercado tem o cartoon em Angola?
Não há mercado para o cartoon em Angola, apesar de ter muito público e apreciadores de desenhos. São poucos os jornais, revistas, televisão, portais online que publicam os cartoons ou caricaturas, assim como os desenhos animados feitos por angolanos. E os jornais que publicam não o fazem com regularidade e se o fazem é sempre de um único artista. Por outra, quando é criado um projecto ligado ao jornalismo no País, dificilmente se pensa num cartoonista para colaborar.

Que cartoon usaria para representar a situação económica do País?
Usaria um cartoon ilustrado em forma de quebra cabeça para os cidadãos nacionais.

De que forma é que a cultura pode contribuir para ajudar o País a sair da crise?
Pode contribuir de várias formas. É uma questão de o Governo criar oportunidades para os fazedores de artes. Estes, por sua vez, desenvolverem projectos que empreguem mais jovens, diminuindo assim o desemprego.

Uma década de caricaturas onde a "novidade" é problema

Nelson António Paim Domingos nasceu a 10 de Agosto de 1989, em Caxito, Bengo. O jovem artista conta que, há 10 anos, teve de romper barreiras e criar as suas próprias oportunidades no mercado. "Foi uma fase difícil, uma vez que tudo o que é novidade em Angola é visto como problema, até quando se pensa ou se quer fazer diferente". Paim faz da sua profissão o seu principal hobbie. Conforme diz, as livrarias e os quiosques estão vazios em termos de divulgação de livros de cartoons, ou mesmo banda desenhada.

Nos seus projectos, está a criação de uma escola, assim como uma editora para maior publicação e divulgação da arte que exerce. Para comemorar os 10 anos de carreira, está prevista uma exposição de caricaturas, intitulada "Rambo", simbolizando que ultrapassou e venceu as dificuldades. Numa década, conta com três livros de caricaturas e exposições nas diversas províncias do País.