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Opinião

Olhar para os benefícios

Editorial

Vão saindo notícias em alguns sites e grupos de conversação de que as relações entre o Governo de Angola e o FMI estão um pouco "agitadas". Alguns dizem mesmo que o Presidente da República já terá colocado a hipótese de quebrar o acordo com a instituição da Sr.ª Lagarde. Parece que o chefe da missão da instituição financeira para Angola também não tem muito bom feitio, o que não ajuda aos entendimentos necessários para fazer cumprir o programa.

As medidas protocoladas para a nossa economia, por mais que pareçam ser as mais correctas para melhorar os números das nossas finanças, não têm em conta outros custos - leiam- -se os custos sociais e políticos - que não entram nas contas do FMI, mas que são de extrema importância para o Governo angolano. E para nós todos, cidadãos comuns.

Obviamente que seria de prever que, aceitando um plano de austeridade com crescimentos abaixo dos 2%, numa economia "mono-produto", com pouca capacidade de substituir a importação por produção local, em pleno turbilhão cambial, no meio da luta anti-corrupção que leva sempre a uma "revolução" no tecido empresarial, os problemas da população iriam agravar-se. Desemprego, baixa de poder de compra e restrições no acesso ao dinheiro são os sinais económicos. Aumento da delinquência, insegurança e instabilidade são os sinais sociais. Isto não está brilhante, dizem os mais optimistas. Isto está mau, dizem os outros.

Como faço parte do primeiro grupo, acho que alguma coisa tinha de ser feita para alterar o "modus vivendi" do País e, possivelmente, entendo que são necessários sacrifícios hoje, para um melhor amanhã. Que vivemos durante anos numa ilusão de fartura que apenas serviu para fazer ricos e não para gerar riqueza. E agora, que voltámos a fazer contas, percebemos que o armazém afinal estava cheio de dívidas. Mas não vale a pena continuar a apontar os culpados, todos sabemos quem são, as energias devem ser gastas de uma forma mais racional. Mais construtiva.

Mudar gera sempre confusão. Que é aumentada quando se tenta construir o futuro com pessoas do passado. Alguns podem até mudar de forma genuína, mas a maioria troca apenas de casaco. Ou de discurso. Pode caminhar-se apenas passo-a-passo, mas o caminho não deve ser questionado. E, nesse sentido, apesar de haver naturalmente limites para as suas exigências, temos de alinhar na estratégia que, voluntariamente, assinámos com o FMI.

Renegociar o acordo, alargar o programa, adiar no tempo algumas medidas, podem ser sempre questões que deveremos lutar na mesa das negociações. Mas romper agora, ainda sem nos termos arrumado internamente, seria certamente um enorme erro. Além de deixar muito frágil em termos internacionais esta nova imagem de uma Angola em mudança. Vamos lá respirar fundo e tentar olhar para os benefícios que estes três anos nos podem trazer. E lutar por eles. E, já agora, acreditar convictamente que podemos fazer um País muito melhor.

Editorial da edição n.º 526, de 31 de Maio de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.