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Crise põe projecto de António Ole para praças na gaveta

Nos 50 anos da sua obra artista revela ideias para o futuro

Uma trilogia de carnavais de matriz africana, a concluir em Salvador da Baía, Brasil, e um simpósio com escultores africanos e europeus, em 10 capitais de província, são projectos do artista plástico. Nos 50 anos de carreira, Ole aponta para o futuro e revê a carreira.

Assinala os 50 anos de vida artística de António Ole com uma exposição em Luanda. O que é uma constante na sua obra?
Uma grande vontade de me exprimir através das artes, porque concilio o trabalho diário, no meu atelier, entre a pintura e outras aventuras: a fotografia, a escultura, o cinema, que é uma paixão... Aliás, por essa razão, desloquei-me para a Califórnia, onde estudei na universidade, e isso abriu-me perspectivas profissionais muito interessantes, pelos contactos e visitas a museus, que são importantes no crescimento de um artista.


Foi essa procura que o fez aventurar-se por várias expressões artísticas?
Sim. Quando andava no liceu, queria estudar arquitectura...


Arquitectura porquê?
Porque a minha paixão era construir. Participar na sociedade, construindo casas, prédios, pontes, mas o 25 de Abril, em Portugal, e a independência de Angola, desviaram-me. De qualquer forma, achei que a arquitectura podia ser uma ponte para a pintura, desde 1967, altura da minha primeira exposição colectiva. Parecendo que não, olho para trás, e passaram 50 anos.


Na sua arte, não há balizas?
Acho que não. Ao longo destes anos, trabalhei muito em trânsito por vários países. Saio do meu estúdio em Luanda com desenhos e croquis e, quando me desloco para outros países, EUA, Alemanha, vou construir uma obra a partir de coisas que encontro lá. Isto tudo associado ao cinema, que, na altura, 1978, me absorvia totalmente, foi importante. Esses anos foram muito ricos emocionalmente. Estávamos a viver uma história muito acossada por interesses que não eram os do povo angolano...


Isso desagradava-o?
Desagradava-me, mas fez-me ter uma reacção. Há muitas obras minhas marcadas por esse período mais difícil, é como uma catarse, que nos alivia, ao mesmo tempo que comunicamos. A gente dá, mas também recebe um eco do público e da maneira como ele interpreta a obra. Alguém do público viu coisas que não vi, por exemplo, para mim é extremamente importante.


A arte para si não é somente estética?
Não. Há conteúdo, há comunicação, como uma espécie de alívio. Mas, enfim, estou em permanente evolução.


Foi também a necessidade de inovar que o levou a experimentar novas formas?
É sempre anseio de um artista inovar ou acrescentar algo. A minha obra é um constante pesquisar. Vou-lhe dar um exemplo: há 10 obras que vão numa direcção, as outras a seguir vão contra essas. É uma prática para agitar. Não quero descobrir a pólvora, já está descoberta, mas sinto que, ao ter desafios, ajudo à evolução da minha obra. Sou um pouco contraditório, gosto do espírito provocatório e a arte também vive disso.

(Leia o artigo na integra na edição 527 do Expansão, de sexta-feira 7 de Junho de 2019, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)