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Opinião

Mudámos de rota?

Editorial

O conhecimento dos factos não implica obrigatoriamente que não se voltem a repetir. Mas quero acreditar, tal como a nossa entrevistada desta semana, que o País não voltará a ser o mesmo. O que temos sabido através das declarações em julgamento dos casos mais mediáticos, dos relatórios publicados por algumas instituições, e do cruzamento da informação que vamos recebendo de algumas pessoas que se mantiverem caladas durante muito tempo é, no mínimo, "chocante". Mas aquilo que verdadeiramente me preocupa é se realmente chegámos ao fim deste caminho. Se mudámos de rota.

O verdadeiro desafio é a produtividade. E isso tem a ver com uma nova mentalidade. Temos que ser rigorosos na análise da prestação profissional dos nossos governantes para que possamos exigir o mesmo dos nossos colaboradores.

E temos que admitir que sejam rigorosos connosco. Não devia valer mais promover o sobrinho do membro do comité central em detrimento do filho da zungueira do Rangel, independentemente da sua prestação diária na organização. Aliás, a meritocracia é um conceito muito falado nos últimos tempos, mas o que realmente interessa é quem define os critérios dessa avaliação, e não menos importante, quem avalia.

Temos a economia toda atrofiada e não temos que ter medo das palavras. Os monopólios que foram criados de forma artificial afastaram os empresários empreendedores, e criaram uma nata de "políticos- empresários", que na sua maioria estão apenas habituados a viver das benesses, do património e do dinheiro do Estado, mas com poucos hábitos de cumprir as suas obrigações num mercado concorrencial.

Mas pior, consideram-se insubstituíveis, e acham que esta crise ajuda ao reconhecimento da sua importância, e por isso não estão nada empenhados na mudança. Mudaram um pouco a linguagem, mas quando são chamados a prestar contas, mostram a arrogância que sempre os caracterizou. Mas isso seria o menos. O pior é que as suas organizações, na maior parte, são improdutivas e desajustadas. Só garantem emprego, mas não geram riqueza. E é com esta importância social que se vão mantendo.

O apelo é que se aproveitem agora estas novas linhas de financiamento, não para alimentar os mesmos, mas que novos empreendedores tenham a possibilidade de desenvolver os seus negócios. Para que possam tomar o lugar, pouco a pouco, da responsabilidade social que estes do passado ocupam, gerando ao mesmo tempo mais-valias para a nossa economia.

E o Governo deve apoiá-los com aquilo que é o seu papel - que todos tenham oportunidades, obrigações e incentivos iguais. Basta isso e poderemos ver emergir uma nova classe empresarial. Que é muito urgente para a mudança que se exige no País. O desafio é mais do que político. É económico.

Editorial da edição 532 do Expansão, de sexta-feira, dia 12 de Julho de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.