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"Não podemos dizer que há um circuito de mercado de arte em Angola"

HENDA TEIXEIRA

Exposição "Untitled 02" será alargada até 20 de Setembro na sede do Banco Económico, num espaço que é hoje uma das principais salas de exposição dos artistas nacionais. O objectivo do banco passa por apoiar e desenvolver o mercado de arte no País, explica Henda Teixeira, administradora executiva da instituição bancária.

Qual é o objectivo da exposição UNTITLED?
Podemos identificar dois grandes objectivos: por um lado, a proposta do Banco Económico virada para o desenvolvimento do mercado de arte ao propor criar as condições para que obras de cultura ou arte entrem num sistema de circulação que lhes possibilite o acesso a pontos públicos de exibição; por outro, procura promover o pleno desfrute de uma iniciativa artística que visa o acesso físico a uma obra de arte por parte do público e o conhecimento ou redescoberta de artistas.

Que balanço faz da edição deste ano?
Na sequência do sucesso da edição anterior, em 2018, "Untitled 02" reúne mais de 100 obras de mais de 46 artistas, com estéticas e técnicas diversificadas, e diferentes níveis de experiência. Temos tido um público cada vez mais presente e mais atento e contámos, desde a abertura desta iniciativa no dia 25 de Junho, entre público geral e visitas guiadas, cerca de 500 visitantes.

Que impacto traz o UNTITLED para os artistas nacionais?
A exposição integra artistas com percursos e estéticas diferentes, algumas das principais referências da arte contemporânea de Angola com reconhecimento internacional e novos talentos de uma geração emergente de artistas angolanos. Pretende-se, fundamentalmente, dar oportunidades a jovens artistas de expor com os mestres, ganhar experiência e proporcionar o intercâmbio entre eles e o público.

Qual foi o critério de selecção dos artistas?
O denominador comum entre eles é a partilha do pensamento crítico e a criação de estéticas interessantes, divergentes e convergentes, numa mostra que estimula um diálogo intergeracional abrangente e interactivo. É este tipo de diálogo, transversal e intergeracional que se pretende. Centenas de obras estarão expostas.

Cada artista fez-se representar com quantos trabalhos?
O número de obras por artista varia muito. Houve uma escolha muito criteriosa, baseada no equilíbrio de abordagem artística e na experiência do artista na mostra em geral. A exposição contempla obras de pintura, escultura, desenho, tapeçaria e instalação, numa selecção de peças de arte contemporânea caracterizadas por uma grande diversidade de técnicas e materiais, como a lata, madeira, papel, plástico e materiais reciclados.

Como olha para o estado da cultura angolana?
O desenvolvimento da arte em Angola está intimamente ligado à história do País e, no contexto actual, verificamos que embora exista já muito trabalho feito, também consideramos que há muito por fazer, nomeadamente ao nível da educação e da criação de mecanismos transversais de apoio à arte. Temos assistido, nos últimos anos, a um desenvolvimento constante de projectos artísticos e iniciativas culturais, e temos uma nítida noção do crescimento do número de visitantes. Existe um número de artistas angolanos e da diáspora que têm uma grande projecção internacional e que marcam presença em bienais de renome, museus, feiras de arte e exposições a nível global. Acreditamos que no futuro irá existir cada vez mais espaço para a valorização da arte contemporânea em Angola.

O que acha da criação artística nacional?
Existem artistas angolanos e da diáspora em franca ascensão, sobretudo a nível internacional. O reconhecimento deles fala por si, mas nesta exposição queríamos de facto destacar os novos artistas que vão surgindo graças a iniciativas como esta. Claro que uma maior aposta na educação e na formação da arte como foi o caso da criação do Instituto Superior de Arte (ISART), e cujos recém-formados têm aqui algumas das suas criações expostas, ajuda muito na profissionalização e projecção destes novos talentos.

De que forma o UNTITLED contribui nacional?
Ainda é demasiado prematura para termos uma resposta. Generalizando, mostras como o UNTITLED alinham-se com a política cultural do banco na medida em que desenvolve claramente actividades que permitem a geração de oportunidades de criação, pesquisa e intercâmbio, de difusão das artes nacional e internacionalmente. Em termos de contribuição efectiva para a economia nacional, há asp e c t o s que ainda precisam de ser desenvolvidos para se poder falar num verdadeiro mercado de arte em Angola. Apesar da actividade dos espaços culturais que existem, não podemos ainda dizer que há um verdadeiro circuito de mercado de arte, no País, e o que existe encontra- se pouco estruturado. O que talvez possamos afirmar, com alguma segurança, é que ainda há muito por explorar em termos de olhar a arte enquanto oportunidade de investimento, ou de negócio.

A mostra serve como estímulo financeiro para os artistas?
A proposta do Banco Económico está virada para o desenvolvimento do mercado de arte ao propor criar as condições para que obras de cultura ou arte entrem num sistema de circulação que lhes possibilite o acesso a pontos públicos de exibição e, é claro, esta exposição acaba por se tornar um palco para os artistas e eventualmente a comercialização das suas obras.

Exposição colectiva "inova com rotatividade"

Henda N'Zinga da Câmara Pires Teixeira, nasceu na cidade capital, Luanda, licenciou-se em Gestão e é actualmente administradora executiva do Banco Económico. Sobre o projecto destaca que o conceito do UNTITLED é "bastante inovador no contexto cultural nacional", dado que consiste numa exposição colectiva, com obras e artistas em sistema de rotatividade, que permite assegurar uma exibição cultural mais dinâmica, com diversas intervenções artísticas, em diferentes momentos.

Henda Teixeira destaca que, dada a adesão do público a esta exposição, decidiu-se alargar o período da mostra até dia 20 de Setembro. A administradora menciona que o banco tem apoiado o desenvolvimento de programas educativos "como aquele que será lançado agora no princípio de Agosto até 20 de Setembro". Será um serviço educativo para grupos escolares, famílias e público interessado, que vai garantir uma aprendizagem livre e esclarecida.