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Opinião

Os "Donos da Bola"

Editorial

As raízes da "doença" BES/BESA continuam a sugar os recursos dos respectivos países, Angola e Portugal, sem que na verdade existam sinais claros que os responsáveis venham a ser punidos. Pelo contrário, vemos os governos conformados e os serviços de justiça a empurrarem com a barriga os processos que foram abertos.

Em Portugal toda a elite familiar Espírito Santo mantém a mesma vida, o mesmo estatuto. Em Angola, as figuras associadas ao caso BESA, sócios, administradores, também estão tranquilos. Em Portugal o Novo Banco anunciou que prevê pedir mais 541 milhões ao fundo de resolução, depois de já ter recebido em Maio 1.149 milhões em Maio, relativos aos prejuízos de 2018.

Em Angola, foi anunciado em comunicado que o Banco Económico vai fazer um aumento de capital, que devido ao estado actual dos outros accionistas - Novo Banco não pode acompanhar por que está a ser intervencionado, a Lektron entregou a sua participação ao Estado e a Geni fez saber que não vai investir - será a Sonangol que vai assumir o ónus.

Fala-se em verbas que poderão os mil milhões de dólares, e que virão naturalmente do Estado angolano. Isto partindo do princípio que não vai sair da cartola um novo sócio privado para injectar este dinheiro. Ou seja, em termos práticos, continuam as ser os cidadãos de Portugal e de Angola que estão a pagar os "devaneios" de uma elite financeira luso-angolana, ou ango-portuguesa se preferir.

Curioso verificar que quando se fala da falência do grupo Espírito Santo em Portugal, a acusação vem na direcção dos sócios angolanos do BESA. E quando se fala da queda do BESA em Angola, a culpa é atirada para os portugueses do BES.

Mas uma curiosidade que não se esgota neste caso, mas que se estende a uma série de irregularidades financeiras que foram denunciadas nos órgãos de comunicação, algumas delas já transpostas para os tribunais, é que os cidadãos que têm problemas com a justiça portuguesa sentem-se confortáveis em Angola, e que os cidadãos que sofrem do mesmo mal no nosso País, também sentem-se confortáveis em Portugal. Eles, as suas famílias e os seus bens.

Esta elite financeira que "saqueou" os dois países, embora em Angola o pecúlio tenha sido maior devido à quantidade das suas riquezas, continua por aí, viajando entre Lisboa e Luanda com regularidade, ostentando os seus sinais de impunidade, porque na verdade parece que nada os atinge.

E por mais laços de amizade e visitas recíprocas entre os governantes dos dois países, por mais palavras e teorias sobre o combate à corrupção que se façam, com grande empenho, nada de significativo acontece. Esta elite lusa-angola, ou ango-portuguesa se preferir, continua a sua saga. Continuam a ser os "donos da bola".

Editorial da edição 536 do Expansão, de sexta-feira, dia 9 de Agosto de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.