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Opinião

Confiança económica

Editorial

As privatizações voltaram a trazer para a mesa a tal variável que não vem nos manuais de economia, mas que é essencial para o investimento - a confiança. Esta pode ser analisada sob duas perspectivas, mas que não podem ser confundidas.

A política, que tem a ver com discursos e processos de intenção, e a económica, que tem a ver com o ambiente de negócios e medidas concretas. Se relativamente à primeira, as coisas parecem bem encaminhadas, em termos internos acredita-se que o ambiente político está a mudar e de vários parceiros internacionais têm chegado elogios, relativamente à segunda, as coisas não estão tão "brilhantes".

Os empresários nacionais multiplicam as queixas - excesso de burocracia, perseguição fiscal, acesso muito difícil ao crédito, falta de regularização dos atrasados por parte do Estado, entre outras. Junta-se a depreciação do kwanza, que encarece a importação dos factores de produção.

Sobre os empresários estrangeiros, a verdade é que não aumentou o número de investidores interessados em trazer os seus negócios para Angola. Há um cepticismo por parte das representações diplomáticas sediadas na capital, que é passado aos seus investidores, criando uma ideia de "esperar para ver". O poder político internacional aprova a "Nova Angola", o poder económico observa de longe.

Por isso, quando falamos de privatizações, deve o Governo agora ir à procura de conquistar a confiança dos investidores internacionais, pois estamos todos de acordo que a poupança angolana ou sediada em Angola não é, nem de perto nem de longe, capaz de assegurar o capital necessário para estas 195 operações que estão previstas no PROPRIV. Esta confiança só se ganha com uma postura de rigor e transparência.

Rigor quando se cumpre aquilo que se promete nos prazos agendados, transparência, quando se afastam práticas que estão fora das regras internacionais de compliance. Coisas simples, parece, mas que anos e anos de posturas duvidosas e questionáveis não ajudam em nada. Porque em muitas instituições as pessoas são as mesmas, e quando menos se espera, ou quando os seus interesses estão em causa, voltam os esquemas. Não é nada fácil mudar habitações que têm telhados de vidro. Mas é possível. Pelo menos eu acredito. Mas será que os investidores lá fora também acreditam?

Por isso, parece cada vez mais importante a diplomacia económica, que deve centrar os seus esforços nos países do continente africano, onde a nossa imagem e a confiança em Angola são menos questionadas.


Editorial da edição 538 do Expansão, de sexta-feira, dia 23 de Agosto de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.