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"Seria um orgulho voltar a representar as cores do meu País"

Daniana Esteves

Filha de treinador e atleta com um percurso com cada vez melhores resultados no voleibol, primeiro em Angola e agora em Portugal, Daniana Esteves não descarta a possibilidade de um dia vir a ser treinadora no país natal.

O que representa a conquista, em Agosto, do 3.º lugar feminino no Campeonato Nacional de Voleibol de Praia em Portugal?
Sinto-me muito feliz e muito realizada, o campeonato era bastante competitivo e o 3.º lugar foi um culminar de muito esforço, muitas horas perdidas, muito trabalho e dedicação. Espero para o ano conseguir voltar a participar e obviamente tentar fazer um melhor resultado.

Foi o seu pai que a incentivou a seguir este desporto?
Sim, sem dúvida. O meu pai jogou profissionalmente e enquanto treinador representou vários clubes. Também foi seleccionador de Angola durante muitos anos. E sem o seu incentivo dificilmente estaria a jogar voleibol.

Sempre quis ser atleta profissional?
Jogo há 18 anos. No início começou como uma brincadeira, o voleibol era uma actividade para melhorar o meu bem-estar. Mas os anos passavam e o amor pela modalidade aumentava e criava objectivos. Um deles foi tentar ser profissional de voleibol.

Foi fácil integrar-se no voleibol num outro País?
A integração foi fácil. Difícil foi a adaptação técnico-táctico ao modelo competitivo que encontrei em Portugal.

Que diferenças encontrou?
Para começar, em Portugal o campeonato tem a duração de 7 a 8 meses, é composto por 13 a 14 equipas e existe um número elevado de jogos (todos os fins de semana). Sendo assim, a preparação é diferente, o trabalho físico é mais exigente. Depois, quando cá cheguei, tive de mudar a minha posição, adaptar-me a uma nova, foi um desafio. As condições de treino são bastante diferente das que tinha em Angola, a qualidade do pavilhão e do piso, os balneários, o material usado, a organização do clube, entre outros aspectos.

Qual foi a maior dificuldade?
Não foi um trajecto fácil, em relação ao voleibol indoor comecei a minha experiência a nível sénior na 3.ª divisão, subindo para a 2.ª divisão ao final da primeira época. Fui campeã nacional da 2.ª divisão e conquistei o acesso a 1.ª divisão por duas vezes. A grande dificuldade que senti foi a luta pela manutenção, visto que o nível da 1.ª divisão em Portugal é bastante competitivo. Em relação ao voleibol de praia, além de ter participado em 5 campeonatos nacionais consecutivos, tive a classificação de 3.º em 2 deles, e agora o 3.º lugar no Campeonato Nacional 2019. Destaco ainda o apuramento na época de 2018 para o World Tour 4 Stars (maior competição do mundo de voleibol de praia). A grande dificuldade são os poucos apoios financeiros para conseguirmos participar em todas as etapas e treinos.

E já jogou profissionalmente em Angola? Pretende voltar?
Como referi, comecei a jogar muito nova, e ainda cheguei a participar em muitos campeonatos em Angola, mas não considero jogar profissionalmente, porque nunca recebi nada pelas conquistas que tive. E sim, pretendo voltar um dia.

Já representou Angola nas competições da CPLP. Além disso qual foi o seu trajecto por cá?
Eu representei Angola muito nova, tinha 13 anos da primeira vez (conquistei o 2.º lugar) e 16 anos na segunda participação (conquistei o 3.º lugar). Depois disso continuei a participar nos campeonatos nacionais e fui campeã júnior 5 vezes e sénior 1 vez. A seguir, a fim de dar continuidade aos meus estudos tive de mudar-me para Portugal, tornando difícil continuar a competir em Angola.

Angola deveria apostar mais neste desporto? O que falta?
Claro que sim, acho que existem jogadores com bastante qualidade e potencial. Acho também que existe falta de apoios e de infraestruturas para a boa prática da modalidade. Também deveria existir uma maior política de incentivo ao início da prática desportiva.

Gostaria de vir a ser treinadora em Angola?
É uma grande possibilidade, como o meu pai foi treinador e jogador acredito que esteja nos meus genes. Mas pelo menos em Portugal é preciso tirar cursos para ser treinador e ainda não os tenho. Quem sabe será um investimento para o futuro.

O voleibol assim como outros desportos dependem de financiamentos. Isso também afecta a sua decisão de não estar a jogar em Angola?
A crise não afecta a minha decisão de não estar a jogar em Angola, porque neste momento desejo continuar a minha trajectória no voleibol em Portugal.

Sendo angolana, sonha representar o País nas Olimpíadas?
Gostaria muito, seria um sonho. Porém, estou em crer que a Federação Angola de Voleibol tem acompanhado a minha carreira desportiva em Portugal e estou surpresa pelo facto de nestes 10 anos não ter sido convocada para nenhum certame internacional. Seria um orgulho voltar a representar as cores do meu País, algo que já fiz no Brasil e em Angola. Estou esperançada que antes do encerramento da minha carreira profissional o possa voltar a fazer.

Consegue viver apenas do voleibol?
Recebo um salário pelo voleibol mas é muito difícil viver-se do voleibol em Portugal. Existem poucas jogadoras que só têm o voleibol como profissão. O normal aqui é para além de seres jogadora de voleibol fazes mais alguma coisa, ou estudar ou trabalhar em outra área, para no final ser um "todo" rentável. No meu caso, actualmente, além de jogar voleibol estou a fazer uma pós-graduação.

Vocação "descoberta" por aconselhamento médico

Daniana Esteves nasceu em Luanda e começou a jogar voleibol com apenas 9 anos de idade no Namibe. Na época, como tinha um problema de saúde, nomeadamente asma, foi aconselhada pelos médicos a praticar algum tipo de desporto. Como o seu pai já tinha um histórico no voleibol começou a treiná-la juntamente com as filhas de alguns amigos. Hoje, com 27 anos, no voleibol indoor português foi campeã nacional da 2.ª divisão e conquistou o acesso a 1.ª divisão por duas vezes. Os próximos desafios serão, em Outubro, a época de indoor 2019/2020, e no voleibol de praia entrar no Campeonato Nacional português em 2020. Em termos académicos, licenciou-se em Portugal em Gestão Hoteleira pelo Instituto Superior de Educação e Ciências e frequenta uma Pós-Graduação em Gestão de Eventos.