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Grande Entrevista

"O nosso parque industrial além de obsoleto é inexistente"

Grande Entrevista a PEDRO BEQUENGUE, PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DESPACHANTES

Pedro Bequengue, o patrão da Câmara dos Despachantes Oficiais, assume que a crise afectou a actividade dos mais de 200 operadores. Apela ao reforço das linhas de financiamento à economia para estimular a produção interna no curto prazo.

É um empresário ligado à actividade de despachante de mercadorias que entram e saem do País. Como é que olha para os indicadores macroeconómicos do País?
As perspectivas actuais são boas apesar de persistirem ainda alguns desafios relativamente à estabilidade macroeconómica. As políticas adoptadas pelo Executivo podem, no curto prazo, melhorar os indicadores. Já estivemos pior. A implementação do programa de diversificação da economia poderá permitir o País sair do marasmo em se encontra. Um dos pilares da diversificação é a redução das importações, mas é preciso manter as importações de bens essenciais em Angola para estabilizar o mercado de consumo e relançar a economia. O discurso de acabar com as importações não pode ficar na cabeça dos mais jovens.

Tem alguma razão que o leva a esta conclusão?
A diversificação não pode ser vista apenas no prisma do aumento da produção interna, temos que apostar na transformação do que é produzido. E o processo de transformar os bens obedece à criação de bases sustentáveis da indústria. Sabemos que o nosso parque industrial além de obsoleto é inexistente. Precisamos de importar para estabilizar o consumo e só assim poderemos pensar em exportar. Com o corte das importações tudo parou, o mercado interno não consegue dar resposta às necessidades. São poucas as alternativas dos cidadãos que se confrontam diariamente com a alta do custo de vida.

Como estimular o sector produtivo numa economia sem liquidez?
O País tem que continuar a importar bens que acrescentem valor ao produzido internamente. O Estado tem que apostar na organização do sector produtivo e estabelecer objectivos concretos com projectos que resultem, no curto prazo, como o financiamento de projectos que podem gerar empregos. É preciso que haja capacidade e disponibilidade financiar para investir no sector produtivo. A criação de linhas de crédito bonificadas para projectos que empreguem mais jovens.

Qual deveria ser o sector de eleição para reduzir as importações?
A indústria. Este é um sector fundamental para que o País tenha a sua marca de bens de consumo e consiga criar uma cadeia de exportações com rótulos nacionais. A industrialização é muito importante porque temos alguma produção agrícola que precisa ser transformada. O que se produz no sector agrícola, para além de ser sazonal, tem um tempo de vida muito curto é preciso que haja crescimento do sector industrial para absorver o excedente da produção agrícola. Falo concretamente da agro-indústria e assim poderemos pensar nas exportações.

Como é que encara o programa de privatizações das unidades fabris da Zona Económica Especial Luanda-Bengo?
O objectivo do Governo é dar capacidade produtiva a essas unidades, porque estavam ociosas. Pensamos que assim que essas fábricas estiverem em pleno funcionamento o mercado será abastecido com produtos nacionais e mais empregos serão gerados. Penso que é um processo de gestão para empresas inoperantes e torná-las competitivas.

Podemos entender como uma medida do Estado reduzir a sua presença na economia?
É uma questão de política de gestão empresarial e criação de rendimentos. O Estado pode manter-se activo naquilo que é necessário no mercado, para não estar ausente de tudo. A actividade reguladora do Estado passa por isso mesmo, criar políticas que estimulem e garantam o bom desempenho da actividade empresarial e criar um mercado mais competitivo. A privatização pode ser feita, numa primeira fase, de empresas que venham criar maior estabilidade comercial no mercado e depois seguir com outras unidades com activos tóxicos. (...)


(Leia o artigo integral na edição 541 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Setembro de 2019, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)