Questões de dinheiro
As questões políticas na economia capitalista são obviamente questões de economia. A soberania dos Estados é a sua capacidade de serem auto-suficientes, de gerarem riqueza suficiente para não terem que depender de terceiros, ou pelo menos dependerem o menos possível.
Conseguirem ter um desenvolvimento industrial capaz de não terem uma politica de mão estendida nas relações com os vizinhos, de por via das suas exportações garantirem a satisfação das necessidades da população sem aumentarem constantemente a sua dívida, seja ela pública ou dos seus agentes privados, manterem níveis de desenvolvimento humano das suas populações que originem Índices de satisfação que depois se reflectem na produtividade. Mas fundamentalmente, ter uma prática de rentabilização dos seus recursos, sem esbanjamento gratuito, olhando sempre para a geração seguinte, e para aquilo que será a sua herança.
Se olharmos para a história universal, nos diferentes momentos, apenas uma ou duas civilizações ou países conseguiram atingir um ponto elevado de independência face aos restantes habitantes do planeta. E todas elas acabaram por desfazer-se, mesmo as que pareciam suficientemente robustas para nunca se desfazerem. Se o poder e a riqueza fossem eternos, ainda hoje o mundo seria dominado por gregos, egípcios, romanos ou ingleses.
As condições de hoje também são muito diferentes das do passado. Nunca houve tantos países, nunca houve tamanha interligação, embora se mantenha a convicção que aqueles que conseguiram manter os seus territórios, que tem mais dimensão e mais pessoas, terão uma maior vocação hegemónica. Para mais de 200 países no mundo, no entanto, o caminho é apenas fazer dos seus cidadãos mais felizes e com maiores rendimentos face aos vizinhos. Aliás, a riqueza é um conceito comparativo, se todos tiveram 100 milhões de dólares não há pobres. Mas também não há ricos.
Infelizmente, esta noção comparativa da riqueza levou a enormes desigualdades um pouco por todo o mundo, e em especial no continente africano. Enquanto as elites lutavam por mostrar que tinham mais e mais, os cidadãos iam ficando cada vez mais pobres. Todas as vezes que um dirigente comprava um Ferrari, um milhão de pessoas ficava sem um saco de arroz e sem uma embalagem de "córtex" para combater a malária. E esta prática foi-se generalizando, até se tornar normal, depois corrente, e depois o objectivo de vida para os milhões que continuam a sustentar estas elites.
De vez em quanto zangam-se, como está a acontecer no nosso País, o motivo é sempre o mesmo, dinheiro, e depois acabam por afectar a vida de todos nós. Mesmo os que não querem ser elite, que não querem acumular riqueza estupidamente, que têm como principal foco ser apenas felizes. Aparecem sempre os mais fanáticos, os que estão dispostos a fazer tudo para fazerem parte desse grupo mais restrito, e que por isso se tornam perigosos. Mas há também, embora menos, aqueles que acreditam verdadeiramente nas causas. Apenas estes me merecem respeito.
Editorial da edição 545 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Outubro de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.