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Grande Entrevista

"Talvez tenhamos de fazer os preços que se praticam nas ruas"

HAMILTON MACEDO, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DAS CASAS DE CÂMBIO

Hamilton Macedo, presidente da Associação das Casas de Câmbio, vê na liberalização do mercado cambial um caminho para a recuperação dos seus associados e a redução do peso do mercado informal num negócio que precisa de ser mais regulamentado.

A liberalização do mercado cambial aliviou a vossa pressão?
De certa forma. Agora tem de haver um trabalho de nossa parte e criar-se condições para dar este salto. Acredito que será rápido.

Nesta altura, como estão as casas de câmbio?
As casas de câmbio não vivem uma situação das mais saudáveis. Desde há algum tempo, vivem momentos de sufoco, sendo que a medida tomada pelo Banco Nacional de Angola (BNA) de liberalização da taxa de câmbio agrada-nos. Enquanto representantes do sector, já tínhamos proposto e apoiávamos que isso acontecesse no passado, porque achávamos que a taxa de câmbio controlada nos retirava capacidade de competir com a rua. Por isso, a nossa situação hoje não é uma situação estável.

Não é estável porquê?
As casas de câmbio foram obrigadas a fazer o aumento do seu capital social para estarem em conformidade com as normas do banco central e grande parte das empresas respondeu positivamente a este desafio no sentido de melhorar a nossa capacidade, a nossa performance. Esta liberalização vai ajudar-nos a repensar o negócio. As casas de câmbio começaram a enfraquecer à medida que o kwanza se foi desvalorizando, porque grande parte das empresas têm os activos em kwanzas, dinheiro, e a moeda, desde Janeiro, tem vindo a depreciar-se consideravelmente. Estamos a viver estas consequências porque o nosso produto também é importante.

Porque defendem a liberalização do mercado cambial?
Porque sentíamos que era a única forma que tínhamos de blindar as nossas empresas. Não deixar que o mercado informal se tornasse tão dinâmico. Queremos acabar com o mercado informal e sentimos que as autoridades também querem o mesmo. Mas sabemos que o mercado informal é uma questão de cultura, hábitos, e que não são essas medidas, por mais eficazes que sejam, que vão alterar isso. Podemos sim minimizar, desincentivar. Se o cliente souber que, ao invés de fazer a compra ou venda de divisas na rua, pode dirigir-se a uma casa de câmbio, que presta o mesmo serviço e com mais segurança, vai fazê-lo de certeza.

Depreende-se que a decisão do BNA foi boa para vocês?
Na verdade, o que queríamos, com esta liberalização no passado, era aumentar as nossas fontes de captação de divisas. Esta medida chegou em boa hora. Mas é preciso que sejam tomadas outras medidas que nos permitam movimentar no mercado, relacionar com empresas e outras instituições. Que alarguemos o nosso leque de captação.

Querem concorrer directamente com o mercado informal?
Nós não queremos concorrer com o mercado paralelo. O mercado paralelo é quem concorre connosco.

É o vosso principal concorrente?
Em determinado segmento é. No segmento de retalho, o mercado informal ganhou nos últimos tempos uma dimensão que nós não temos. Não estamos em condições de estar em todas as esquinas do País. Ou seja, o mercado paralelo tem uma dimensão que não conseguimos acompanhar. Mas é bem verdade que a maioria das pessoas que se dispõe a fazer recurso às ruas só o faz porque é a única alternativa. Se houver uma emergência, o cidadão mais rapidamente consegue captar divisas no paralelo, mesmo com o preço especulativo, do que recorrer a um banco ou a uma casa de casa de câmbio. O mercado paralelo é alimentado por si só. Não precisa de ninguém. Todo o mundo, de forma voluntária ou involuntária, prefere vender as divisas no mercado informal, por uma questão de preço. E nós também temos de ter preços para poder combater com o mercado paralelo. É o que sempre pedimos.

As casas de câmbio vão ter preços equiparados aos do mercado informal?
Numa primeira fase, e porque andámos muito tempo fora do mercado com as taxas que tínhamos e para nos aproximarmos do mercado talvez tenhamos de fazer os preços que se praticam nas ruas. Depois do mercado estar feito, as taxas por si só vão regular-se. A procura e oferta vão determinar o preço. (...)


(Leia a entrevista integral na edição 549 do Expansão, de sexta-feira, dia 8 de Novembro de 2019, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)