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Opinião

Inacreditável

Ediorial

É o mínimo que se pode dizer de todo este processo da refinaria de Cabinda. E, já agora, também do teor do comunicado da Sonangol a este respeito.

Então "após um longo processo de selecção de um investidor com capacidade técnica e financeira", "seleccionou em Novembro de 2018 o consórcio United Shine, (...) celebrou um acordo genérico em Fevereiro de 2019 e um contrato a 4 de Junho do mesmo ano", para quatro meses descobrir que afinal não garantia "financiamento ou garantias para assegurar a implementação da Refinaria em Cabinda" ou "qualquer capitalização societária que demonstrasse robustez financeira ao nível dos capitais próprios, para assegurar a realização do projecto".

Então ninguém, durante quase um ano, foi fazer uma investigação sobre o consórcio? Então, em concursos públicos desta dimensão, primeiro aprova-se e só depois é que se vai confirmar as informações que as empresas apresentam? Nós aqui, no Expansão, já tínhamos feito uma pesquisa na internet e confirmado que esta United Shine estava registada em Hong Kong e tinha um dólar local de capital social.

Resumindo, e de acordo com o comunicado da Sonangol, além do escrito acima, também não apresentaram os estudos técnicos suplementares para suportar o projecto, não submeteram a documentação para aprovação à luz das leis angolanas e também não provaram que a refinaria que iam trazer para Angola era deles e, ainda assim, o projecto foi aprovado, anunciado, com direito a cerimónia oficial e transmissão nas rádios e nas televisões?

E, já agora, quem foi júri deste concurso? E, afinal, quais foram os critérios utilizados para esta escolha? Se não cumpriam nada do que vem no comunicado, afinal, o que é tinham mais do que os outros para serem os vencedores? Ou foram os únicos a concorrer?

De acordo com o mesmo comunicado, foi assinado há mais de um mês um acordo com a Gemcorp, 30 Outubro, "um memorando de entendimento para o financiamento e implementação do projecto", dois dias depois de terem rescindido o contrato com a United Shine. Na prática, por mais que isto custe ouvir aos responsáveis, a refinaria de Cabinda vai ser construída através de "adjudicação directa" à Gemcorp, com um concurso público no meio que não serviu para nada.

Deixo mais uma pergunta no ar - porque é que esta informação só foi tornada pública agora, 35 dias após a decisão, curiosamente 10 horas depois de o Expansão ter enviado à Sonangol e ao ministro dos Recursos Naturais e Petróleos um pedido de esclarecimento sobre esta situação?


Editorial da edição 553 do Expansão, de sexta-feira, dia 6 de Dezembro de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.

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