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"Há muito a fazer no desenvolvimento do mercado de arte em Angola"

LUÍS DAMIÃO

Presente na exposição colectiva "Intersections - Within the Global South", na galeria This is Not a White Cube, Luís Damião usaria os trabalhos "Natureza viciada" e o "Mercado da mabunda" para descrever o contexto económico do País.

Sabemos que tem tido uma agenda preenchida de trabalho. Como foi o ano de 2019 para si?
Considero o ano de 2019 positivo na medida em que foi um ano dedicado, sobretudo, à pesquisa e experimentação. Precisava deste espaço para trabalhar e focalizar-me na técnica que estou a desenvolver. Ainda assim este ano integrei dois projectos colectivos: um em Lisboa, com artistas da lusofonia, e outro em Luanda, denominado "Intersections - Within the Global South", que ainda está patente até ao dia 16 de Janeiro na Galeria Banco Económico.

Como foi ter o seu trabalho em grandes eventos como a Bienal de Bamako?
Foi uma experiência muito enriquecedora, em primeiro lugar porque foi uma responsabilidade representar Angola numa das maiores manifestações do mundo de fotografia e vídeo, e em segundo pelo facto de estar ao lado de grandes figuras no mundo da fotografia.

Como se iniciou como fotógrafo?
Comecei ainda muito novo e influenciado pelo meu pai [Paulino Damião], que é um dos mais antigos fotógrafos - fotojornalista - do País. A arte corre na família e era inevitável.

Tem estado a levar o seu trabalho para o exterior. Além de Luanda já expôs noutras províncias?
Sim, já estive na província do Mbanza Congo na altura das festividades do Festikongo. Trabalhar noutras províncias faz parte dos meus planos, sim.

O que mais o inspira para a composição dos seus trabalhos?
O meu processo integra actualmente uma forte componente de experimentação e investigação, com incidência no desenvolvimento de novos meios de produção técnica e de apresentação, com renovadas perspectivas sobre o tema das composições tradicionais na era da tecnologia digital e da manipulação da imagem. As referências da construção estética reportam ao universo da fotografia documental, mas com recurso simultâneo a uma elaborada encenação de imagens. A introdução desta perspectiva performativa resulta num processo de matização recorrente da divisão entre o que é documentário, e o que é ficção, e sucede habitualmente para enfatizar propostas de reflexão sobre as vivências sociais e políticas no contexto urbano de Luanda. É esta reflexão , aliás, que é explorada na mostra colectiva do Banco Económico, onde as minhas obras como "Os Mwatas" e "Passageiro da Lua" estão expostas.

Já fotografou tudo ou sente que lhe falta alguma coisa?
O trabalho de um fotógrafo/artista é inesgotável e, como tal, há muita matéria ainda por experimentar.

Que trabalho seu usaria para descrever a situação económica o país?
Usaria a "Natureza viciada" e o "Mercado da mabunda".

A crise tem estado a influenciar na concretização de algum projecto pessoal ou profissional?
É evidente que sim - com a crise há muito menos apoios e o material é escasso. Juntando a isto, ainda há muito a fazer no desenvolvimento do mercado de arte em Angola.

É possível viver da arte/fotografia?
É muito difícil já por si viver da arte e, juntando a isso, a problemática do contexto social e económico em Angola, complica ainda mais.

Prefere exposições colectivas ou individuais?
Já estive em vários projectos colectivos em Angola e em Portugal, e num projecto a título individual. Estou a trabalhar num projecto grande com a minha galeria, This is Not a White Cube, em Angola e em Portugal e há uma grande possibilidade de participar em feiras internacionais em 2020. Um projecto a solo implica muito mais energia e tempo, mas também muito mais visibilidade. Estou preparado e vai acontecer em breve.

O amor pela fotografia foi inspirado pelo pai

Aos 41 anos, Luís Damião desenvolve o seu trabalho em torno da prática artística da fotografia. A paixão pelo "clic" começou ainda muito novo e influenciado pelo pai, que é um dos mais antigos fotojornalista do País, o Paulino Damião. Não mais parou e colecciona uma vasta gama de eventos. O seu processo integra actualmente uma forte componente de experimentação e investigação com incidência no desenvolvimento de novos meios de produção técnica e de apresentação. Quanto não está a fotografar, gosta de praticar natação. Natural de Luanda com formação média de Liderança Administrativa, procura trabalhar com o maior tipo de material reciclado possível. O livro de cabeceira é "O sono da morte". Actualmente participa na exposição colectiva "Intersections - Within the Global South" que está patente em Luanda até Janeiro de 2020, na Galeria Banco Económico.