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Angola

É constrangedor olhar para o PAC e ver empresas ligadas a banqueiros

Grande Entrevista a CARLOS PADRE, ECONOMISTA E CONSULTOR

Carlos Padre fala dos desafios da economia para 2020, aponta o dedo ao Executivo pela forma como está a conduzir o PND e manifesta preocupação com os financiamentos que estão a ser concedidos à luz do PAC, sem esquecer o que chama de falta de interesse que os investidores estrangeiros têm em vir para o País por causa de vários constrangimentos.

Quais são as suas perspectivas para a economia nacional em 2020?
As perspectivas pelo quadro actual não são muito boas. O Governo elaborou um Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018 -2022 e não segue muito este plano. Houve muita coisa que ocorreu este ano que não constam do PDN. Uma delas e muito preocupante é a questão do câmbio. Quando se faz um plano para as várias acções, metas, deve haver algum rigor no cumprimento, o que não está a acontecer.

Os planos não podem ser adaptados em função do momento?
Sim. Os planos podem ser adaptados. Há sempre margens de oscilação, mas o problema é que estas margens foram ultrapassadas em muitos aspectos. Temos um determinado sector do nosso Executivo que ainda se manifesta com alguma arrogância e não ouve as opiniões de dentro e também de fora. Há muitos bons conselhos, muitas intervenções das várias associações empresariais para mudar o quadro actual. Existem boas propostas, mas infelizmente estas boas propostas não são tidas nem achadas.

O que o Governo defende em relação às pequenas e médias empresas não é o que se pratica?
Não. E isso é recorrente. Se considerarmos que a nossa economia deixou de ser tão problemática há mais de 15 anos, após os acordos de paz de 2002, porque havia um constrangimento muito grande e era a guerra, tivemos oportunidades que não sei se voltaremos a ter, como por exemplo, o barril de petróleo a 100 USD, para darmos um grande salto, e isso não aconteceu.

Não é altura de deixarmos de lado este discurso e olharmos para a realidade como ela é?
Realmente temos que tratar da nossa realidade com os números que temos. As pessoas têm que ser mais terra a terra. A imprensa pública fala muito de programas, planos, inaugurações, que na realidade não se sentem no dia-a-dia e na vida dos angolanos. Pelo contrário, há um empobrecimento real que não devemos descorar. Os políticos têm que dar exemplo, mas isso não acontece. Tem que haver uma nova ética, postura. Tem que haver o reflexo de que é do trabalho que o homem tem que obter os seus rendimentos. Alguma coisa tem que ser melhorada. É como o caso de atracção de investimento directo estrangeiro, não tenhamos dúvida, Angola não se irá desenvolver se não houver um investimento directo estrangeiro a entrar no País.

O País não está em condições de captar investimento directo estrangeiro?
Não está. Porque infelizmente temos aqui uma lei da propriedade privada que não tem nada a ver com o capitalismo que se quer implantar. É tão difícil conseguir uma escritura, as nossas conservatórias têm dificuldades em emitirem escrituras, os processos demoram mais de 10 anos em muitos casos. Se os investidores angolanos têm estes problemas, imaginem os estrangeiros. Há também este problema em relação à terra, a lei de terras tem que ser melhorada para que os investidores apostem. Não se vai desenvolver a agricultura com actual lei de terras.

Porquê?
Para agricultura desenvolver temos que ter leis e processos idênticos aos que se fazem em outros países, como o Brasil. Porque o investidor estrangeiro só vem se encontrar um campo de acção idêntico ao dos seus países, com leis claras. E isso também é fundamental para se conseguir financiamento. Isso de pensar que com capitais próprios é possível montar todo o negócio já não existe. É necessário um financiamento sério. Mas, temos que ver quem são os investidores, não o que está acontecer agora, que são sempre as mesmas pessoas ou empresas a serem financiadas. Por exemplo, é constrangedor olhar para o Programa de Apoio ao Crédito (PAC), e ver que algumas empresas que estão a ser financiadas têm ligações com banqueiros. Neste processo de financiamento é necessário seleccionar e priorizar as pequenas e médias empresas. Este País não vai longe com projectos megalómanos como se fazia no passado. (...)


(Leia o artigo integral na edição 555 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Dezembro de 2019, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)