"O mercado [bancário] está mais liberalizado no geral e é assim que deve continuar"
Gestor da sucursal angolana do maior grupo financeiro africano, o Standard Bank, faz análise às últimas medidas do BNA, à economia e ao estado do crédito. Luís Teles defende que, com a flexibilização das regras cambiais, o País entrará no "mapa" dos destinos do investimento directo estrangeiro.
Há dois anos que o BNA faz sair regras voltadas para liberalização do mercado cambial. Que significado o Standard Bank Angola (SBA) atribui às acções do regulador?
Vamos tentar simplificar, que é algo bastante complexo: é necessário, de facto, liberalizar o mercado cambial angolano. A falta de liberalização tem impedido uma maior flexibilidade de investimento, o investimento estrangeiro em particular. Como sabe, este novo regulamento do BNA [sobre Operações de Capitais e de Rendimentos Associados] dirige-se essencialmente a não residentes cambiais, particulares como empresas. O que se pretende é uma maior flexibilização das regras para que possa ver maior investimento directo estrangeiro em Angola; seja esse investimento os chamados investimentos directos, em empresas ou em projectos, ou em instalações produtivas, ou sejam investimentos de carteiras, essencialmente direcionados à bolsa, seja em acções, seja em obrigações.
Que metas o banco central está a perseguir?
Pretende-se dinamizar esses investimentos com esta flexibilização das regras, para que Angola consiga atrair maior investimento estrangeiro. Na nossa opinião, é importante porque Angola precisa de investimento directo estrangeiro para criar empregos. Angola precisa de crescer economicamente e crescer economicamente só feito através de investimento. Investimento esse que deve ser essencialmente privado para que possa haver não só produção nacional mas também criação de mais empregos. Isso só pode ser feito se as regras de atracção de investidor internacional forem regras simples e forem regras que convençam investidores internacionais, que estão a avaliar vários países, que Angola é um país competitivo; é um país interessante para esses investidores poderem investir.
Estas medidas vão ajudar nas operações da banca?
Nesse sentido, parecem-nos positivas essas medidas incrementais, que têm vindo a ser tomadas. Não foi só essa última; tem vindo a ser tomada um conjunto de medidas já desde 2018, salvo erro. Todas elas no mesmo sentido. Parece-nos haver uma consistência da parte do BNA e alguma estratégia bem definida para poderem caminhar no sentido de uma maior flexibilização do mercado cambial, tanto ao nível de taxas e de compra e vendas de divisas, como ao nível de permissão de investidores estrangeiros poderem trazerem as suas divisas e saírem com suas divisas, como acontece nos mercados mais desenvolvidos.
Pode indicar um mercado que teve sucesso ao aplicar esse modelo que Angola agora acompanha?
Se olhar ao que se passa noutros mercados, como por exemplo na África do Sul, que é provavelmente o mercado mais sofisticado financeiro em África, a entrada e saída de capitais na África do Sul é regulada; existem algumas regras, não é livre. Mas para os investidores estrangeiros, é muito mais simples, porque permite a entrada e saídas de capitais com muito mais flexibilização do que Angola. O investidor estrangeiro que quer olhar para Angola e diga "eu quero montar aqui uma fábrica de tecnologia ou equipamento num determinado sector"; se o processo de investimento for demasiado burocrático, for demasiado restritivo, ou complicado, obviamente os investidores estrangeiros vão comparar o mercado angolano com outros mercados em África. E vão tomar uma decisão. Nessa medida é muito importante que as regras de entrada possam ser simplificadas. Não podemos ignorar que Angola tem demonstrado um crescimento económico baixo, aliás, eu diria negativo, e agora a expectativa para 2020 é um crescimento económico positivo, mas relativamente baixo, é necessário fazer algo mais para poder atrair os investidores estrangeiros. Se Angola estivesse a crescer 10% ao ano no PIB, é uma coisa. Angola estando a crescer tão pouco, é necessário fazer algo mais, tentar de facto ter uma proactividade diferente para poder atrair esses investimentos. Do ponto de vista global, esses instrutivos são positivos. (...)
(Leia o artigo integral na edição 558 do Expansão, de sexta-feira, dia 24 de Janeiro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)