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Opinião

O sorteio de quinta-feira

Editorial

O sorteio das casas do Zango 5 na próxima quinta-feira será possivelmente um dos programas televisivos com maior audiência do ano. Em Luanda, especialmente, a vida vai parar. São mais de 150 mil cidadãos envolvidos directamente e, se juntarmos familiares e amigos, rapidamente podemos chegar a um ou dois milhões. Será também a primeira vez que o Instituto de Supervisão de Jogos, entidade responsável pelo processo, vai mostrar as suas tômbolas em transmissão televisiva.

Tudo é novidade em termos práticos, todos queremos ver o tal sorteio, pelo que eu sugeria mesmo que pelo menos o Governo Provincial de Luanda decretasse tolerância de ponto na quinta- feira à tarde. Seria preferível para evitar súbitas indisposições ou "funerais" de vizinhos, desmarcação de reuniões à última hora ou quebras de sistema que podem levar ao encerramento de alguns estabelecimentos.

Na preparação do sorteio ainda há algumas dúvidas, nomeadamente se serão sorteados candidatos suplentes para ocuparem os lugares daqueles que, apesar de serem bafejados pela sorte, não tenham os documentos conforme as exigências, sendo de prever que possa também haver candidatos que, no momento em que forem chamados para iniciar o processo, não reúnam todas as condições ou tenham declarações que não são absolutamente legais. Se não for esta a opção, possivelmente lá mais para a frente vamos ter outro sorteio para as habitações que ficarão sem dono. Este parece ser um pormenor de menor importância, mas é fundamental para manter a credibilidade do processo.

É nesta vertente, transparência e verdade, que o sorteio de 5.ª feira assume um papel importante. Será a primeira distribuição de casas onde os factores "amigo do amigo", "filho do general" ou "gasosa" não assumem um papel de destaque. Se tudo for cumprido como está previsto, não farão sequer parte desta "festa". E esse é um passo enorme num País onde até há bem pouco tempo parecia que todas as conquistas tinham como "companheiros de armas", o esquema, a mentira, a corrupção.

As hipóteses de conseguir a tão ambicionada compra de casa não será fácil, as percentagens de sucesso são muito baixas, e vai haver muita gente que apesar das expectativas, ficará de fora dos eleitos. Também será interessante verificar como irá reagir a sociedade no final deste processo. Claro que haverá alguns, imbuídos desse espírito de conspiração, que vão dizer sempre que foi uma fraude. Que nada mudou. Que foi para os mesmos, etc., etc. Mas se a opinião dominante for de aceitação dos resultados, então teremos dado um passo importante na "normalização" do País. Eu quinta-feira à tarde não estou para ninguém. Já marquei o meu lugar em frente à televisão.

(Editorial da edição 561 do Expansão, de sexta-feira, dia 14 de Fevereiro de 2020, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)