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Opinião

A luta continua...

Editorial

No nosso reino acentua-se a luta entre os novos e os velhos tempos. Poucos dias depois de um dos generais ter sido indicado pela PGR como último beneficiado daquela que foi a maior apreensão de imóveis no País, o mesmo general fez uma faustosa boda para a sua filha - maior que aquele que para muitos tinha sido o casamento do século - com direito a massagistas para os convidados, um corredor de rosas e uma roda de diversão no palco.

Tal como o anterior, também este general fez questão de "esfregar" na cara dos angolanos, com imagens e vídeos na net, esta demonstração de riqueza perfeitamente absurda, chocante e imoral para uma população que passa por dificuldades sérias de sobrevivência. Mas mais do que isso. Nesta altura, quando é "acusado" do desvio de dinheiros públicos para seu próprio benefício, pode ser visto como um desafio ao Estado e ao Governo. "Tenho mais dinheiro que vocês e depois?", parece ser a mensagem.

Também de forma surpreendente, no último dia dado pelo corpo de juízes, o ex-presidente enviou a resposta às oito questões enviadas na segunda semana de Dezembro a propósito do julgamento do caso dos 500 milhões.

Assume tudo aquilo que tinha sido dito pela defesa de Valter Filipe e Zenu dos Santos, assumindo que foi ele quem deu a ordem da transferência, que foi ele quem deu ordens para se fazer uma operação que a PGR e o Ministério Público consideram uma fraude, que foi ele quem deu a ordem para os réus manterem o secretismo do negócio, contra a legislação em vigor e todos os mecanismos de "compliance" instituídos no BNA, e que a operação só não foi finalizada através de decretos presidenciais porque, entretanto, "entregou" a presidência a João Lourenço. Tal como aconteceu no caso acima, este depoimento também pode ser visto como um desafio à Justiça angolana. "Fui eu e depois?", parece ser o espírito subjacente à resposta do ex-presidente.

Uma semana em que os homens do "antigo regime" têm motivos para sorrir. Tal como acontecia nas guerras da idade média, saíram de trás das árvores, dispararam duas "flechadas", acertaram perto do alvo e voltaram aos lugares de refúgio à espera das retaliações.

A pergunta que se coloca agora é óbvia: como é que as instituições embutidas de novos ventos e os generais do novo exército vão responder? A forma, o tempo e a intensidade da retaliação podem dar-nos uma ideia mais precisa do empenho de cada um dos contendores neste processo de mudança, que, na verdade, não volta mais para trás. O povo, apesar de não ser tido em conta nesta batalha, já não iria deixar...

(Editorial da edição 562 do Expansão, de sexta-feira, dia 21 de Fevereiro de 2020, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)