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Opinião

Falta (de) dinheiro...

Editorial

O País está a cair na armadilha "não recebo do meu cliente, não pago ao meu fornecedor". As empresas começam a ficar asfixiadas na tesouraria, o dinheiro não circula na economia, os atrasos nos ordenados aumentam, os cidadãos não consomem, a economia cai apesar de todas as "boas vontades" do Governo.

O elo de confiança vai-se quebrando entre os agentes económicos, "não pago hoje porque não sei se recebo amanhã", os negócios não se fazem, e o problema de tesouraria passa a ser um problema de facturação. É uma roda que depois de começar a girar é difícil de parar. E é assim que o nosso tecido empresarial está a viver estes dois primeiros meses do ano.

A roda só se quebra se entrar mais dinheiro na economia. Do ponto de vista institucional, o Estado tem de dar o exemplo, pagar os seus atrasados, honrar os prazos combinados com os fornecedores, dar instruções específicas aos seus gestores para não "arranjarem desculpas" para adiar os pagamentos.

Muitas empresas, pequenas, médias e grandes continuam a queixar-se que as empresas públicas, ministérios e instituições oficiais pagam quando querem, exercendo o seu peso na facturação dos fornecedores para pagarem quando bem entendem.

Esse controlo deve ser feito pelos ministros do sector, e em caso de haver efectivamente apertos, então que se explique isso bem. Aquela ideia de que o Estado paga quando quer, não ajuda ao desenvolvimento da economia. E esta postura tem reflexos directos na insatisfação social e na acção política.

Mas não menos importante é passar confiança aos empresários. Estes têm de sentir segurança suficiente para realizar investimentos, para "largar" os seus kwanzas e para honrarem os seus compromissos. Aliás, este é o maior problema - os agentes económicos têm pouca confiança no País. Apesar dos avanços em matéria de combate à corrupção, de maior concorrência em alguns sectores, muitos ainda não acreditam quando se trata de pôr o seu dinheiro.

A comunicação das autoridades oficiais, através dos seus gabinetes específicos, também está longe de ser perfeita. Voltámos a uma linguagem de projectos futuros, do que vai acontecer, das cerimónias de primeira pedra, algo que os especialistas do marketing político acham que recolhe muitos votos, mas que cria uma enorme desconfiança junto do empresariado.

Essa fórmula de "publicitar" intensamente nos meios de comunicação públicos em 2020 projectos que podem, ou não, funcionar em 2025, não é seguramente o melhor caminho para recuperar a confiança dos agentes económicos e evitar que o País siga nesse trilho do "não recebo do meu cliente, não pago ao meu fornecedor". O efeito é exactamente o contrário.