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Opinião

Os cortes inevitáveis

Editorial

A crise no preço do barril de petróleo pode ser uma boa oportunidade para moralizar as despesas do Estado, nomeadamente as da Assembleia Nacional, da Segurança do Estado e das principais empresas públicas. Será preciso coragem, porque se terá de mexer nos interesses instalados e nos hábitos "burgueses" dos envolvidos que ao longo de décadas se habituaram a não "fazer contas".

Mas também é uma boa oportunidade para acabar definitivamente com alguns negócios "ruinosos" feitos com fundos de investimento que cobram juros inaceitáveis dentro da realidade financeira actual. E a acabar com a linguagem dos "milhões" e ter também um pouco mais de respeito com o dinheiro, com os recursos que o País é capaz de gerar.

E já agora, que se crie uma cultura de prestar contas, de analisar os objectivos definidos em cada despesa, que os envolvidos sintam que existe punição para aqueles que ao serviço do Estado enriquecem de formal "legal", porque da ilegalidade trata o PGR, ou seja, que se acabe com os que fazem maus negócios para as instituições que representam, mas que vão acumulando riqueza de uma forma difícil de explicar de acordo com os rendimentos "oficiais" que têm.

Como é que alguém que vive com um ordenado de director-geral ou de administrador de uma empresa pública, ou mesmo com um ordenado de deputado, pode ter casas em Portugal, no Brasil, Espanha, oito carros, filhos a estudar fora, relógios de ouro, fatos italianos, etc.? Seria preferível que as declarações de rendimentos dos envolvidos nestes cargos tivessem caracter público de forma a que não houvessem dúvidas.

Voltando à crise do preço de barril de petróleo, os números apresentados revelam que partir dos 55 dólares por barril, valor previsto no Orçamento, por cada dólar a menos, as receitas do OGE caem 200 milhões de dólares. Ou seja, uma revisão das contas para o ano, que deverá acontecer se a situação se mantiver durante mais umas semanas, com um valor realista de 40 dólares por barril, significa a necessidade de fazer cortes na ordem dos 3 mil milhões de dólares, partindo do princípio que o Governo não vai cair na tentação de se endividar mais.

E é na escolha do que se vai cortar, que pode estar a diferença entre moralizar e desmoralizar a nossa sociedade. Entre defender os privilégios de uma pequena classe e fazer o resto da população pagar a factura, ou equilibrar as contas, e optar por manter os investimentos previstos para a área social e económica, e fazer emagrecer a máquina do Estado, mexendo no excesso de mordomias que os "escolhidos" mantém apesar do tempo de crise. Será também uma boa oportunidade de perceber afinal por onde quer caminhar o actual Governo. Bem vistas as coisas, e tal como em todos os contratempos e problemas da vida, também há coisas positivas.


(Editorial da edição 565 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Março de 2020, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)