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Angola

"Angola vai ter que se habituar a viver com o petróleo a 35 dólares. No máximo 40"

Grande Entrevista a PEDRO GODINHO, EMPRESÁRIO

Pedro Godinho olha para a crise dos preços de petróleo, para a economia do País, para os problemas que os empresários passam devido ao sistema de corrupção que se instalou em Angola e para a necessidade de mobilizar quadros para a governação sem exigência de filiação partidária.

O preço do barril de petróleo caiu em duas semanas dos 51 dólares para menos de 25. Os impactos serão brutais para a nossa economia. Quanto tempo acha que vai durar esta situação?
Recorrendo à História, houve uma grande crise no início dos anos oitenta, depois outra em 91 coma guerra no Iraque, o petróleo estava a 30 dólares e baixou para cerca de 7 dólares por barril. A crise subsequente foi em 2014 onde o petróleo chegou a estar a 140 dólares e caiu até aos 30. E todas elas não demoraram mais de dois anos. Inclusive naquele "crash" de 2008 em que houve uma intervenção directa dos governos que tiveram de injectar dinheiro na economia. A mesma estratégia que Donald Trump está a utilizar, que outros governos estão a utilizar nesta questão do coronavírus.

Mas agora é um factor que os homens não dominam. Trata-se de parar um vírus.
Pelo que estamos a ver esse novo coronavírus não vai durar para além de Maio. O próprio presidente chinês engajou-se, deu garantias ao presidente Trump e ao mundo que estará controlado a curto prazo. E depois de controlado é eliminá-lo. Já esta semana foram anunciados os testes em humanos da nova vacina. Acho também que há preocupação a mais. Todos sabemos que a norte do hemisfério nesta altura, em que faz mais frio, morrem sempre milhares de pessoas de gripe. A Covid-19 é apenas um estágio mais avançado.

Acha então que daqui a um/dois meses o preço do barril do petróleo já estará a subir?
Penso que não é necessário esperar tanto tempo. Senão vejamos, o preço atingiu esses valores de 25 dólares o barril não por causa do coronavírus. Já com a epidemia na Ásia, com a China praticamente parada, o preço do barril estava a 45/50 dólares. A razão da quebra abrupta do preço naquele fim de semana teve a ver com a guerra comercial entre a Arábia Saudita e a Rússia. Mas é importante reter algumas ideias - o preço do barril nunca mais vai estar perto daqueles valores que estávamos habituados, entre os 80 e os 100 dólares, poderá atingir no máximo 68 dólares, em razões muito excepcionais.

O preço normal será então 50/55 dólares?
Essa era o valor do início de 2019. Só com os cortes da OPEP é que o preço aumentou para a casa dos 70 dólares. É importante falar da guerra económica entre a China e os Estados Unidos, dois gigantes que enfrentaram e ambos ficaram mais fracos. Isso teve consequências na sua actividade produtiva, e estando a falar dos dois maiores consumidores de petróleo do mundo, naturalmente que teve reflexos na procura. É importante recordar que em 2006/2007 os Estados Unidos precisavam de ir ao mercado buscar 12 milhões de barris/dia, hoje só precisa de 5 milhões. Faltam sete milhões. Houve um abrandamento de mercado, sendo que estes sete milhões são actualmente absorvidos por outros países, com maior realce para China e a Índia.

Defende então que existem outros factores e não apenas o novo coronavírus?
Quando começou esta crise o preço do barril estava acima dos 60 dólares. Foi baixando, baixando, até mais ou menos aos 49, mais ou menos duas semanas antes da reunião da OPEP. É quando anunciaram a cimeira, o preço voltou a subir. Sentam-se e zangam- se, a Arábia Saudita diz que vai encharcar no mercado, colocar 2,6 milhões de barris/dia a mais, e acima disso ainda ia fazer descontos. A Rússia anunciou que ia lançar mais 200 mil, com a possibilidade de mais 300 mil, e foi isso que fez baixar os preços.

Também há cada vez mais produção?
O mercado também que ser visto sob a perspectiva da oferta e da procura. Os Estados Unidos deixaram de comprar esses sete milhões e há cada vez mais descobertas. Ainda agora aconteceu essa nas "guinais" em que o jazigo chega a atingir os 230 km de extensão, o que é inédito. É a maior de sempre. Mas foi fundamentalmente essa guerra entre a Arábia Saudita e a Rússia que levou a esta situação em que o mundo está fortemente abalado. Se houvesse um acordo entre esses dois países eu garanto que o preço estaria acima dos 50 dólares, mesmo com a Covid-19. (...)


(Leia o artigo integral na edição 566 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Março de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)