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Opinião

Momento único

Editorial

Apesar do estado de emergência, da queda abrupta do preço do petróleo, do ambiente de crise internacional, o Presidente da República tem agora um momento único, que poderá nunca mais se repetir, para proceder a alterações que quebrem definitivamente as raízes com as práticas e os costumes do passado.

Angola precisa de mudanças estruturais importantes, que passam por uma ruptura com o pensamento do despesismo, da falta de rigor, dos gastos exacerbados na gestão da coisa pública, da bajulação, da falta de conhecimento e de profissionalismo, que marcou a história de muitos dos nossos Ministérios e empresas públicas nas últimas décadas.

Os custos políticos, dentro do seu partido e perante o eleitorado, que as políticas de ruptura sempre trazem, esbatem-se no ambiente que estamos a viver. Podem mesmo ser um elemento catalisador para a recuperação da confiança das pessoas e dos agentes económicos, porque todos precisam de esperança, e uma mudança é sempre vista no primeiro impacto como uma boa coisa. Um primeiro sinal, muito importante, foi dado na passada sexta-feira quando foi anunciada a redução do número de ministros e a forma de construção do OGE revisto, que não vai olhar apenas para a coluna da receita, mas que vai cortar na despesa "gorda", leia-se bens e serviços, da máquina do Estado. Muitos dirão ainda insuficiente, eu prefiro pensar que é o início de um caminho e que os cortes nas mordomias da administração pública poderão ser ainda maiores.

A composição do novo governo, que deverá ser apresentada na próxima semana será certamente um sinal importante. As mudanças não são apenas urgentes nos ministérios que se fundiram, mas também em outros em que os resultados continuam a ser insatisfatórios. Por isso, é este o momento para mudar, trazendo para o elenco governativo novas formas de pensar, pessoas descomprometidas com o ambiente à sua volta, que não tenham o "rabo preso" com os problemas que têm e que vão ter que resolver.

Do meu ponto de vista, a escolha dos ministros tem que começar com uma análise séria do que está a acontecer em cada sector, qual é o problema prioritário que tem que se resolver. O foco é essencial, hierarquizar duas ou três questões de resolução num espaço de tempo predefinido, e não alavancar 20 ou 30 questões e pensar que vão resolver todas. Escolhidos os objectivos, depois olha-se para as pessoas. Quem pode levar essa tarefa por diante.

E só depois olhar para os inevitáveis critérios de alinhamento político. Precisamos de ministros corajosos, empreendedores, conhecedores, e claro, também políticos com capacidade de mobilização. É tão importante definir as políticas como escolher as pessoas capazes para as executar. Este é o momento único para as transformações estruturais, mas também das escolhas certas. Mesmo que tragam algum descontentamento partidário. O País primeiro que tudo!

(Editorial da edição 568 do Expansão, de sexta-feira, dia 3 de Abril de 2020, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)