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Opinião

Gerar confiança

Editorial

O País está a retomar a sua actividade económica, apesar de inúmeras dúvidas que se levantam sobre a verdadeira situação da pandemia da Covid-19 no País.

Até ao momento, fizeram-se cerca de 2.300 análises, sendo que não chega a 0,01% da população, as principais cidades de província apesar de terem equipamentos não têm capacidade de testagem, faltam reagentes e técnicos, e se nos descansa o baixo número de infectados também nos assalta a ideia que se não fizermos testes com um volume suficiente e nas províncias fronteiriças ou de maior risco, estamos a enganarmo-nos e, mais cedo ou mais tarde, a "bolha" rebenta. E se rebentar numa altura em que a população já acredita que afinal o vírus não chegou ao nosso território, então as consequências podem ser desastrosas.

Esta história da testagem aos passageiros dos voos de Lisboa dos dias 17, 18, 19 e 21, mais de 40 dias depois da chegada a território nacional, causa preocupação. Afinal foi depois do caso positivo anunciado no passado domingo e da infecção à sua filha que foi desencadeada esta acção, quando nos tinham garantido que estes passageiros tinham sido passados a "pente fino" e que tinham sido cumpridos todos os procedimentos.

Pode não ter sido assim, mas a questão não foi bem explicada e isso abala a confiança no discurso oficial. A confiança é o valor mais importante que o Governo tem para levar os cidadãos a cumprirem as regras que vai emanando e deve, por isso, fechar todas as dúvidas que possam surgir na opinião pública.

Neste aspecto, a "nova" equipa económica tem feito um esforço para não deixar dúvidas. A crise é grande, mas não temos dinheiro. Não podemos isentar ou apoiar financeiramente de forma directa, mas podemos criar umas moratórias e abrir umas linhas de crédito, pressionar os bancos para aumentarem o numero de apoios. A estratégia é pelo fomento. Mas não há dúvidas, todos os agentes perceberam. Podem não estar de acordo, mas conhecem claramente as regras do jogo e isso... gera confiança.

O que me parece menos claro é o que vai fazer relativamente ao emprego. O INSS não tem apoios directos ao desemprego, em muitos sectores estão e vão acontecer suspensões de contrato de trabalho (de forma temporária ou definitiva), e o Governo continua sem uma solução para esta realidade.

Falta legislação, faltam meios e corremos o risco, quando o estado de emergência se levantar, de assistirmos a uma "onda" de despedimentos que pode pôr em causa a estabilidade social. Dar condições para as empresas manterem os empregos é apenas uma face. A outra é ter uma solução para o cidadão que pode ficar sem trabalho. A informalidade é a primeira opção para muitos, mas não é, seguramente, a melhor solução para o País.

(Editorial da edição 572 do Expansão, de sexta-feira, dia 1 de Maio de 2020, disponível aqui em versão digital)