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Opinião

Oportunidades

Editorial

Já passaram 50 dias de estado de emergência. Limitações na mobilidade, limitações nas liberdades pessoais, limitações na actividade económica, limitações nos beijos e limitações nos abraços.

Limitações também nos kwanzas, limitações nos gastos, limitações nas festas de aniversário dos filhos, limitações nos passeios na marginal, limitações nas "visitas" de sexta-feira e limitações nas idas ao futebol. Limitações em coisas que, afinal, não nos faziam falta, limitações nas vaidades diárias, limitações nas perdas de tempo com gente que não vale a pena e limitações nos sonhos que nunca lutámos para concretizar.

Mas também de melhorias e oportunidades. Enquanto alguns se sentam na berma do caminho com as mãos elevadas aos céus a pedir "santa ajuda", outros arregaçam as mangas e aproveitam o momento. Curioso ver como alguns negócios estão a crescer na cidade com o balanço dos tempos difíceis da Covid-19, e como outros vêem desaparecer entre os dedos empresas que todos pensavam ser inquebráveis. E isto também a acontecer com as pessoas.

Nunca se investiu tanto no sector da saúde, nunca se investiu tanto na formação, nunca se investiu tanto nas relações familiares e nunca se investiu tanto na solidariedade. Claro que há excepções, mas agora é vez de eles ficarem envergonhados quando se afirma que as pessoas são mais importantes que os luxos. Porque abanam afirmativamente com a cabeça, mas não sentem nada disso. Este maldito animal, o Sarscov-2, mostrou a quase todos que, afinal, a hierarquia das prioridades estava errada. E abriu várias janelas para pensar futuro.

Os mais conservadores dizem que tudo vai voltar ao mesmo quando isto passar. Não vai nada! Há coisas que já não voltam para trás e quem não perceber isso vai dar-se mal. Existe uma nova realidade na esquina desta pandemia. Que ficou mais perto. Até porque muitos, pessoas e países, perceberam que, afinal, tinham potencialidades que eles próprios desconheciam. Que é possível viver e crescer de outra forma. E ser feliz de maneira diferente.

Espero que os nossos líderes também percebam esta mensagem para que transformações necessárias se façam com mais harmonia e menos conflitualidade. Quanto maiores forem as dificuldades, maiores serão as exigências de mudança. Não vale a pena olhar para este momento como a oportunidade de manter velhos estatutos e velhas posturas. É exactamente o contrário!

(Editorial da edição 574 do Expansão, de sexta-feira, dia 15 de Maio de 2020, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)