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Opinião

Sectores intocáveis

Editorial

As mudanças nas administrações das empresas do sector eléctrico, com a recuperação de figuras que sempre estiveram ligadas ao sector, há mais de 20 anos, põem-nos a pensar - ou não há mais ninguém, o País não formou quadros com capacidade de gestão nestes sectores, ou o "lobby" é de tal maneira forte que não deixa entrar ninguém de fora.

Tal como acontece, por exemplo, no sector dos petróleos, são os mesmos que vão rodando nos cargos mais altos, hoje sais tu amanhã entro eu. Posso mesmo acreditar que há divisões (mas tem mais a ver com vaidades pessoais), porque o pensamento é o mesmo. E as práticas não são diferentes. Interesses pessoais, interesses corporativos, interesses partidários, sempre à frente dos interesses nacionais. Das populações e dos cidadãos. As histórias estão aí e as pessoas que ocupavam cargos que podiam evitar, estão aí. Alguns nos mesmos lugares que ocupavam nessa altura.

Os gestores podem invocar que não puderam implantar exactamente o que queriam e da forma como pretendiam, mas são os rostos do sector. Alguém de bom senso, analisando de forma tranquila e sustentada, pode dizer que face às dezenas de biliões de dólares que foram investidos no sector da electricidade, apenas desde 2002, e tendo em conta a situação actual de acesso das populações à luz, que o trabalho foi positivo? Que houve um racional aproveitamento dos meios disponibilizados? Que a relação entre aquilo que se gastou e os resultados conseguidos têm um rácio equilibrado?

A resposta a estas perguntas pode não resolver a situação do sector, mas acentua a questão que se levanta: porque é que são sempre os mesmos? E porque é que quando aparece alguém que está fora do clã, rapidamente são criadas condições para que ele acabe por sair, para que os "tais" possam voltar sem que já ninguém se lembre do que fizeram para terem de sair? E a roda vai andando e desresponsabilização mantém-se.

Nestes dois sectores, em particular, energia e petróleos, por onde circulou a maior quantidade de dinheiro que o País geriu, que gastou a riqueza nacional e endividou-se "olimpicamente", definitivamente, não há mudança de paradigma. Isso da mudança é para agricultura, para o comércio, para a saúde, para educação ou para a cultura. Esses é que têm de cumprir objectivos. Para o sector dos petróleos e da energia, possivelmente porque acham os responsáveis do País que são mais importantes que os outros, fica esse estatuto de impunidade e para os gestores a certeza que são "iluminados e insubstituíveis". Por isso, é que rodam as cadeiras entre si e, tal como acontece quando se joga Monopólio, acabam sempre por passar novamente pela casa da partida e receber mais dois mil kwanzas.

(Editorial da edição 575 do Expansão, de sexta-feira, dia 22 de Maio de 2020, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)