Sacrifícios para todos
As parcerias na economia fazem-se por interesse. Não se trata de paixão nem de carinho, embora por vezes alguns possam pensar que "eles gostam de nós" ou são "nossos amigos". A lógica do coração, normalmente, faz mal ao mais fraco e acaba por fortalecer o "predador", que em economia significa o que vai ficar com a maior fatia do lucro.
Isto tudo a propósito do momento complicado que o País vive, sem dinheiro para se manter à tona da água, mas com as promessas que os nossos "amigos" nos vão ajudar. Querem apenas uma pequena contrapartida, uma segurança, as nossas RIL ou concessões sobre as nossas madeiras, diamantes ou outros metais raros que parece que existem no nosso território, de acordo com o Planegeo.
A forma como nos fomos financiando nos últimos anos, assinando as contrapartidas já com a mão estendida, com condições leoninas que as futuras gerações vão pagar durante décadas, deixa-nos hoje em condições muito delicadas, ou mesmo bizarras.
Não será fácil negociar um perdão de dívida, mesmo fazendo parte de um grupo mais alargado de países, até porque as nossas dívidas bilaterais, aquelas que não dependem da vontade política dos credores, não ultrapassa os 12%, pelo que o grosso deste valor obedece menos a boas vontades e mais às tais pequenas contrapartidas explicadas acima.
Felizmente que o nosso território tem inúmeras riquezas, o que nos permite ainda ter uma solução, contrariamente a outros países, onde a natureza não foi tão generosa, mas é necessário mostrar capacidade de gestão. E perceber que o que está em causa não é apenas essa credibilidade externa que precisamos para manter a imagem do País, mas fundamentalmente o que está a acontecer internamente.
Temos de tomar medidas, desenvolver iniciativas e implantar soluções que ajudem as pessoas que cá vivem. Não se pode anunciar medidas que, depois, na prática, não acontecem. Não se pode falar de alívio económico e depois a AGT ter uma posição cada vez mais agressiva com os contribuintes. Não se pode dizer que vai ajudar o orçamento das famílias e depois os bancos comerciais não cumprirem medidas tão simples, como o cumprimento das moratórias dos créditos.
Há uma distância demasiado grande entre as intenções e a prática e nem todos estão a ajudar. E faltam penalizações, parece que às vezes é medo, de obrigar as instituições envolvidas a fazerem também sacrifícios e a não pensarem apenas no umbigo. Ou, então, é apenas estratégia, e isso preocupa-me mais.
(Editorial da edição 577 do Expansão, de sexta-feira, dia 5 de Junho de 2020, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)