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Opinião

Universo Gemcorp

Editorial

O relatório do BNA trouxe mais uma novidade da Gemcorp. Não é que até terça-feira passada eram os maiores credores do nosso banco nacional, agora são os segundos, mas ao mesmo tempo são também o maior gestor de activos externos do BNA. Uma situação herdada do tempo de Valter Filipe, perfeitamente inédita, não conseguimos encontrar nada similiar na realidade de outros países que consultámos, e que no mínimo é estranho.

Mas pior, escudados num contrato que ninguém entende porque é que foi assinado, não revelam, nem ao BNA, onde estão a aplicar o "nosso" dinheiro. A instituição nem sabe se está ou não a violar a lei. Esta é uma situação que belisca a imagem de credibilidade e transparência que o País quer passar aos seus parceiros internacionais. Mas, pior, um enorme silêncio desde 2017, quebrado na sexta-feira passada pelo director do Departamento de Reservas do BNA, Avelino dos Santos, que, diga-se, respondeu a todas as questões colocadas pelo Expansão, e que felizmente passou- -nos a ideia que esta situação é para alterar o mais rapidamente possível, de acordo com o fim dos contratos que ainda estão em vigor.

Não é apenas a situação, é também a Gemcorp. A mesma organização que esteve a ser investigada por importações que chegavam ao País com preços três e quatro vezes superiores ao preço do mercado, feitas com financiamentos em circuito fechado, que esteve envolvida nos financiamentos à Odebrecht em Laúca, que esteve envolvida na disponibilização de várias linhas de crédito, tudo isto com a mesma característica, o País gastou muuuuuito dinheiro. Uma organização que se desenvolveu com inúmeras Gemcorps, espalhadas pelos diversos países, algumas delas com contestação nos países onde actuam, e que se assume, em especial em África, em todas as posições simultaneamente - gestora, intermediária, mutuante, trader e importadora.

E agora, mais recente, como construtora e gestora de refinarias. Foi-lhe entregue, por adjudicação directa, a refinaria de Cabinda, dias depois de ter sido anulado o concurso internacional e "rasgado"o contrato com a empresa vencedora. Basta ler a imprensa internacional, para perceber as dúvidas que instituições como Banco Mundial, o FMI, o Banco Europeu, as organizações internacionais de compliance, colocam sobre a transparência dos negócios de fundos de investimento como a Gemcorp. Também os inúmeros documentos que nos foram entregues colocam dúvidas sobre os negócios feitos com o nosso País.

Afinal como é que a Gemcorp ganhou todo este poder em Angola? A quem é que interessa? Porque é que contrataram ex-jornalistas que ligam aos profissionais de comunicação com regularidade ou fazem-se presentes na porta dos principais meios de comunicação, como acontece aqui onde funciona o Novo Jornal e o Expansão, para amenas cavaqueiras com os profissionais do sector? Porque é que, em surdina, muitos governantes e ex-governantes comentam, estão mesmo dispostos a disponibilizar alguns documentos e informação, mas ninguém quer falar publicamente? Não tenho respostas. Nem para mim!