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Opinião

A retórica da desdolarização da economia nacional

Convidado

A desdolarização da economia nacional não é um tema recente.

O processo através do qual as autoridades angolanas a assumiram como prioridade nas suas políticas económicas, aquando da alteração das condições macroeconómicas do País, em consequência da crise económico-financeiro com origem nos Estados Unidos da América (EUA), conhecida como - a crise do subprime -, em 2007/2008, aumentou significativamente a vulnerabilidade externa dos países, e Angola não foi excepção.

A dolarização é vista como um procedimento adoptado pelos países, que permite aos agentes económicos utilizarem uma moeda estrangeira forte, como o dólar, como um activo aceite nas trasnsacções comerciais internas, de diversa ordem, como instrumento de pagamento oficial. E foi justamente o que se verificou em Angola, no período da crise.

Apesar de o Banco Nacional de Angola (BNA) não ter apresentado um documento oficial que autorizasse a utilização do dólar nas transacções comerciais no mercado nacional, assistia-se a uma procura crescente da moeda estrangeira pelos residentes cambiais, numa altura em que a moeda nacional, o Kwanza, perdia sistematicamente o seu valor face às principais contrapartes, devido, sobretudo, aos desequilíbrios macroeconómicos impostos pela crise supracitada.

Em condições normais, a procura por moeda estrangeira deveria limitar-se às relações comerciais estabelecidas com o resto do mundo, pagamentos ao exterior e outras remessas para fins específicos, mas, quando a moeda é utilizada para o pagamento de serviços como táxis, telecomunicações e outros bens, sugere, por um lado, o excesso de divisas existentes no mercado, e por outro, a fragmentação das condições económicas internas.

Os impostos, a inflação, bem como a volatilidade do câmbio, são apontados como os principais responsáveis pela perda do poder de compra das famílias. Assim, uma vez que os salários constituem a principal fonte de receitas das famílias, o aumento numa das variáveis mencionadas tende a gerar efeitos regressivos sobre a riqueza e rendimento dos mesmos, na medida em que a maior parte desses rendimentos não está dissociada do comportamento da taxa de câmbio ou inflação.

O sistema financeiro nacional está a desenvolver-se, mas não dispõe, ainda, de instrumentos de protecção cambial como os swap cambiais e outros derivados. A única via através do qual os agentes económicos conseguem salvaguardar o poder de compra dos seus rendimentos, são os investimentos em Obrigações do Tesouro Indexadas à Taxa de Câmbio (OT-TX).

*Economista e analista de mercados financeiros

(Leia o artigo integral na edição 582 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Julho de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)