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Opinião

O comboio volta a passar

Editorial

O Expansão teve acesso ao relatório da terceira avaliação do programa do FMI que vai a discussão em Washington no próximo dia 30. Angola parte para esta reunião do "board" do FMI com uma imagem positiva, o staff da organização recomenda mesmo que aprove as pretensões de Angola em aumentar o valor do empréstimo, mais 740 milhões USD, e que considere o pedido de moratória dos pagamentos devidos para este ano.

O desempenho do País é considerado amplamente satisfatório, apesar de das 12 metas metas estruturais previstas, ter cumprido apenas cinco nos prazos acordados, duas fora dos prazos e estarem cinco por cumprir. O documento é, no entanto, bastante simpático para aquilo que tem sido o esforço do Governo em mudar algumas práticas e caminhar para uma maior transparência das suas acções e das suas contas. Esse é um trunfo importante para a reunião da próxima quinta-feira.

Mas também se percebe que os próximos tempos não serão nada fáceis, ou seja, o Kwanza vai manter a desvalorização e a instituição recomenda às autoridades angolanas que deixem o mercado funcionar. Isto traz atrás de si inflação, baixa do consumo privado e perda de qualidade de vida para muitos cidadãos. Os esforços combinados entre as negociações com os credores e a necessidade de ir buscar novos financiamentos não é fácil. Por agora, tal como diz o relatório, a situação parece dominada, mas este ambiente de crise vai durar muito mais tempo. E os próximos três anos são decisivos. Até voltarmos ao pagamento da dívida à China, 2024/2025, o País tem de criar formas de diversificar a sua economia, conseguir aumentar a sua produção interna, desenvolver a indústria, multiplicar os investimentos.

Chegados a este momento, estamos limitados a um valor de poupança que não ultrapassa os 10 mil milhões de dólares, mas com dívidas que são sete vezes superiores. Além de termos gasto tudo o que ganhámos nesta trajectória, já nos endividámos para as próximas décadas. Fizemos ricos, mas não gerámos riqueza. E o desafio volta a ser enorme. A linha entre ser uma das economias mais fortes do continente ou continuar a ser um projecto adiado é muito estreita. Depende em primeiro lugar de quem governa, dos seus sinais, que muitas vezes nos parecem sons já ouvidos em outras festas, mas também de nós todos. Se não abdicarmos da nossa cidadania, se não encolhermos os ombros naquela atitude de aceitação plena, de tentar apenas a felicidade individual em vez de nos preocuparmos com o colectivo, podemos ajudar. Fazer o melhor que sabemos e reclamar também o nosso direito de participar no futuro da Nação é fundamental neste momento. Mesmo que nos empurrem para fora da carruagem. Já passou o tempo em que os maquinistas eram os donos do comboio. Hoje sabemos que também é nosso.