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Opinião

Porque a apreciação do kwanza não tem tido efeito anti-inflacionário?

Convidado

Por volta de 1970 a inflação nos Estados Unidos estava a crescer em torno dos dois dígitos, isto é 11,3%, e representava um problema.

Somente dois meses depois de ter-se tornado presidente da Federal Reserve, Paul Volcker concluiu que passaria adoptar uma política monetária restritiva para reduzir a inflação. Só depois de em 1983 Volcker conseguiu reduzir a taxa inflação em 7 pontos percentuais para 3% e deixou um legado de inflação baixa ,e os bancos centrais em toda parte do mundo passaram a ter na sua agenda a estabilidade dos preços como sendo um dos seus principais objectivos.

O sucesso do banqueiro deveu-se às teorias anteriormente apresentadas pelos economistas, especialmente os monetaristas, dentre os quais cito Milton Freedman que afirmou que "em todo lugar inflação é um fenómeno monetário". Freedman fez uma afirmação ousada e generalizada devido aos resultados dos estudos que fez no século XX. No entanto, com ousadia eu quero rescrever a frase desde Prémio Nobel da seguinte maneira: a inflação é um fenómeno monetário em toda economia com produção interna considerável.

Rescrevi a frase para confrontar a teoria com a realidade das economias cujo comércio internacional se resume a exportações de algumas commodites e à importação de produtos industrializados, mais especificamente de consumo, como é o caso da maioria dos países em desenvolvimento.

Nestas economias, a inflação não se apresenta como sendo um fenómeno monetário, pelo que, a política monetária não tem grande força para combatê-la, este é o caso concreto de Angola, país cuja inflação se apresenta como sendo um fenómeno cambial (ver o meu artigo intitulado "Inflação, crédito e consumo são imunes à taxa BNA "publicado no jornal Expansão, edição nº565).

A taxa de câmbio e a inflação movem-se quase sempre na mesma direcção (ver gráfico), ou seja, grande parte do aumento da inflação é explicado pelo aumento da taxa de câmbio e a razão económica é óbvia. A pergunta que se fazer é "se a depreciação do kwanza face às principais moedas provoca aumento nos preços (efeito pass-through), então o contrário é verdadeiro? Pode a apreciação do kwanza ser usada como medida desinflacionária ou anti-inflacionária?"

Em dezembro de 2018 o kwanza apreciou-se face ao dólar em torno de 0,2% e a inflação mensal naquele mês aumentou em 1,51%. Em novembro e dezembro de 2019 o kwanza apreciou-se à volta dos 1,1% e 1,8%, mas a inflação naqueles meses cresceu 1,48% e 1,93%, respectivamente. Em fevereiro de 2020 o kwanza apreciou-se na ordem dos 0,64% e a inflação naquele mês aumentou em 1,48%. Neste mês de julho de 2020 o kwanza já se apreciou em 3,60% face ao dólar, e de acordo com curso actual da política cambial, irá encerrar o mês com ganhos, mas muito provavelmente a inflação mensal irá crescer.

*Economista e docente universitário

(Leia o artigo integral na edição 584 do Expansão, de sexta-feira, dia 24 de Julho de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)