Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

Emoção

Editorial

Quando se analisa um facto, um documento ou um feito, e depois se faz um pronunciamento sobre o mesmo, há sempre três versões - a que reflecte o que pensamos, a que mais está de acordo com os interesses do grupo onde estamos inseridos, e aquela que particularmente mais nos convém.

Isto acontece com todos. A diferença é apenas nas vezes que cada um utiliza mais cada uma destas versões. Se fizer um pequeno teste vai perceber que ao longo do dia, na sua comunicação com os outros, seja falada ou escrita, utiliza cada uma delas várias vezes. São formas de articular o discurso, que depende das circunstâncias, do carácter e dos momentos. Por isso é que vemos com alguma regularidade que um mesmo cidadão que diz uma coisa em público, outra nas redes sociais e ainda uma terceira na roda de amigos.

Serve esta explicação para dizer que devemos usar esta lógica sempre que ouvimos um discurso político, uma análise de um grande "iluminado" ou mesmo as queixas dos cidadãos na rua. Estará ele a dizer o que sente? Estará ele a defender os seus companheiros ou a bajular o chefe, ou pelo contrário está apenas a ver se retira para si alguns dividendos? As relações entre as pessoas são isso mesmo, esse constante desafio de tentar perceber, ou no limite, de ter uma relação mais saudável com aqueles que intrinsecamente são diferentes de tudo o que acreditamos ou valorizamos. Mas essa é outra conversa.

Voltando ao tema, quando ouvimos o Governador do BNA dizer que a diferença dos desvios dos custos do Museu da Moeda foram porque o orçamento foi feito numa folha de papel e não se pensou na construção da área subterrânea, estará em que versão? Quando vemos o Bolsonaro dizer que a Covid-19 não lhe fará qualquer mal, está em que modo dos referidos acima? E já agora, quando alguns políticos falam da luta contra a corrupção, qual é a versão?

Aconselho os leitores a fazerem o teste. Comecem pelos discursos desportivos ou políticos, são os mais fáceis, pois rapidamente acabam por perceber. Sigam depois para as análises económicas. Aqui às vezes é mais difícil, porque os próprios oradores não fazem uma escolha voluntária do modo de emitirem a sua opinião, é o que sai no momento. Com uma folha branca dividida em três colunas, tome nota. Vai ter conclusões surpreendentes.

Apenas aconselho que nunca faça este jogo com a sua mulher/homem, com os seus amigos mais chegados e com aqueles que verdadeiramente ama. Pode este pequeno jogo colocar-lhe mais perguntas que respostas, porque a emoção atrapalha qualquer avaliação. Embora seja o mais importante que temos. Só o que é feito com emoção é que vale a pena.