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Opinião

Instituições fortes

Editorial

As contas da FAF que publicamos nesta edição levanta mais uma vez a questão da fraqueza das nossas instituições e a forma como foram geridas ao longo dos anos. A instituição que gera o futebol, 44 anos depois da sua fundação, tem como património uma lavandaria, carros, secretárias e computadores. Tudo junto vale 36 milhões de kwanzas, um pouco mais de 50 mil dólares. Em contrapartida, tem um saldo negativo nos capitais próprios que rondam os 1,1 mil milhões de kwanzas, um pouco mais de 1,8 milhões de dólares.

As pessoas que passaram pelas sucessivas direcções têm casas, dinheiro e luxos, mas a instituição tem apenas dívidas para pagar. E continua a viver de mão estendida, a necessitar das boas vontades nacionais e internacionais, com bastantes incertezas face ao seu funcionamento futuro.

Mas isto não acontece apenas na FAF, mas também na grande maioria das instituições do País. Os gestores sugam o que podem, mantém a estrutura viva com boas vontades e aumento do endividamento, fecham o ciclo, vão embora, e deixam o "cadáver" na berma da estrada para o que vem a seguir. Todos mantendo o código de honra, que ninguém faz queixa do anterior, porque a seguir podemos exigir o mesmo ao que nos segue. Vale uns desabafos na comunicação social para limpar a nossa imagem, mas nunca meter terceiros nisto, como queixas formais às autoridades ou outras acções que possam efectivamente responsabilizar quem pensou pouco no futuro da instituição.

Houve algumas mudanças nos últimos tempos. Em tempos passados ia-se ao pomar, recolhiam-se todas as mangas, maduras e verdes, davam-se duas ou três a quem estava a ver, e levava-se o resto para casa. Agora tem que contar-se as mangas, entregar o relatório, deixar algumas verdes na árvore para não parecer mal, mas continua-se a levar a grande maioria das frutas para casa. Vai chegar o tempo em que a viagem ao pomar servirá para plantar mais mangueiras e tratar das que já existem, e que as mangas serão distribuídas de forma uniforme a quem na verdade tem direito a elas. Eu pelo menos acredito nisso.

Nunca haverá um País viável e bom de se viver se as instituições não forem fortes. Se não tiveram mais importância que as pessoas que por lá passam. E o primeiro passo é acabar com o tique da iluminação divina, da bajulação, da idolatração das chefias, só porque sim, sem questionar o que de bom e de mau fizeram quando passaram por esses lugares de topo. E dar mais valor às coisas, às ideias, às instituições. Lembro-me de uma frase que li há muitos anos: "Quando uma sociedade se mede pelas pessoas, há sempre alguém que vai explorar os seus irmãos".