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Percepção do risco da dívida africana "desfasada" da realidade

Estados africanos pagam até 10% mais pelos empréstimos do que países de outras regiões

O Senegal é uma das democracias mais estáveis de África, prestes a tornar-se num grande exportador de petróleo, mas paga cinco vezes mais pela sua dívida a 10 anos do que a Grécia, país no epicentro da crise da dívida na Europa, em 2008, que sujeitou alguns países, como Portugal, a programas de austeridade impostos por pedidos de resgate ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O Gana, outra democracia estável em África e até há bem pouco tempo uma das economias de crescimento mais rápido do mundo, paga um ponto percentual a mais pelos empréstimos do que a Bielorrússia, país mergulhado em protestos contra um líder autoritário, após a sua reeleição em Agosto.

Estes são alguns dos exemplos apontados por um movimento crescente, que se insurge contra os elevados custos da dívida dos países africanos, e que justifica o título "Nações africanas dizem que estão a ser roubadas por Wall Street", de uma notícia publicada esta terça-feira, 8, pela agência financeira Bloomberg.

"Esta percepção de risco negativo não está em sintonia com a realidade do nosso continente", afirmou o Presidente senegalês, Macky Sall, numa videoconferência sobre a dívida africana, organizada pelo FMI, em Dezembro de 2019, que contou com a participação da directora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, e a nigeriana Amina J. Mohammed, secretária-geral adjunta das Nações Unidas.

Sall assumiu a sua irritação com os credores e deixou claro, para uma audiência constituída por investidores e diplomatas, que o preconceito mantém os custos dos empréstimos "injustamente altos" para os países africanos, situação que não encontra paralelo noutras partes do mundo.

No caso do Senegal, os eurobonds passaram a ser a principal fonte de financiamento do país, substituindo os credores multilaterais, como o FMI, e serviram para "alimentar uma era de crescimento sem precedentes que ajudou a tirar milhões da pobreza", evidencia a Bloomberg.

Os números ajudam a ilustrar a marcha da dívida. O Senegal passou de uma oferta de 200 milhões USD de títulos da dívida, em 2006, para duas dúzias de ofertas, no valor global de 117 mil milhões USD. A oferta de eurobonds, num mercado dominado por "investidores estrangeiros, famintos por retornos" não reduziram os custos dos empréstimos das nações africanas, que são "entre 5% a 10% acima de outros mercados emergentes", escreve Alonso Soto, numa altura em que vários países africanos, como é o caso de Angola, negoceiam moratórias no pagamento da dívida com os credores, aproveitando uma iniciativa do G20 para atrasar pagamentos do serviço da dívida para libertar dinheiro para o combate à Covid-19. Outros estados nem sequer iniciaram negociações com os credores bilaterais e privados, por receio do impacto na classificação da dívida soberana, aceitando apenas moratórias no pagamento da dívida multilateral.

(Leia o artigo integral na edição 591 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Setembro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)