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Opinião

O imperativo da diversificação económica: 3 anos depois

Milagre ou Miragem?

Nos últimos 3 anos, o discurso político em Angola, na pessoa do Presidente João Lourenço, indica que a diversificação da economia deve ser vista como um imperativo nacional. Todavia, não vislumbramos avanços desde que se procedeu à transição política em 2017 e, como tal, esse desejo continua adiado.

Olhando para os dados disponibilizados pelo BNA notamos que, por exemplo, tem havido um fraco crescimento das exportações do sector não petrolífero (Gráfico, aqui ao lado), o que não deixa de ser positivo. Porém, tirando o cimento, Angola continua a exportar essencialmente produtos primários (Quadro 1). A madeira e o pescado foram nos últimos 3 anos as principais exportações fora do sector mineral. Trata-se de dois recursos cuja exploração requer cuidados (a biomassa de peixe tem estado a reduzir e uma árvore leva anos para ser substituída), o que mostra a insustentabilidade desses produtos e serve de evidência de que, tal como o resto de África, Angola precisa de levar acabo um processo de industrialização acelerada.

Sendo Angola um País em desenvolvimento, um processo de industrialização vai exigir um aumento considerável na importação de bens de capital, coisa que não tem acontecido nos últimos 3 anos cf. Quadro 2 (abaixo). No Quadro 2, podemos ver que a importação de bens de consumo corrente tem estado a reduzir desde 2017, o que é positivo. Porém, houve igualmente uma redução -8% na importação de bens de capital entre 2018 e 2019 (apesar de haver um aumento em relação a 2016 e 2017), bem como uma redução de -4% nos bens de consumo intermédio para o mesmo período. Estes números mostram que o que o Executivo em Angola tem feito é nada mais do que apresentar um conjunto de intenções, i.e., não existem acções concretas que poderiam levar a um crescimento rápido da produção nacional.

Sobre esta falta de acção, escrevemos há um ano que o Executivo angolano sofria de uma "paralisia da análise". Trata-se de uma paralisia que ocorre quando o indivíduo (ou uma organização) analisa um dado problema em demasia sem nunca chegar a uma conclusão e/ou passar a acção. Só assim se pode compreender os dados apresentados nos quadros 1 e 2. Sobre essa paralisia temos como exemplo mais flagrante o oneroso processo de reabilitação da indústria têxtil, mas que, infelizmente, continua sem gerar riqueza e empregos especialmente para a juventude.

O sector têxtil, à semelhança do sector de bebidas e dos materiais de construção, é intensivo em mão de obra e, como tal, permite que rapidamente se crie no País uma mão-de-obra industrial, necessária para a transformação da economia. Não é por acaso que os últimos países a industrializarem-se, falamos do caso do Japão, da Coreia do Sul, Taiwan, China, tiveram, num dado momento, uma indústria têxtil muito forte. Actualmente destacam-se os casos do Bangladesh, Vietname e da Etiópia, como países que conseguiram dar início a um processo acelerado de industrialização através da indústria têxtil. Então, qual é o problema do Executivo?

*Docente e investigador da UAN

(Leia o artigo integral na edição 593 do Expansão, de sexta-feira, dia 25 de Setembro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)