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Opinião

Mérito profissional

Editorial

O verdadeiro desafio do País é económico e a batalha mais importante é a do desemprego. Do ponto de vista meramente estatístico, cerca de 60% dos jovens angolanos não têm emprego nem estudam.

Refugiam-se no sector informal ou na família para garantirem a sua sobrevivência. Os planos de emprego ou formação profissional, os apoios aos empreendedores e os acessos a verbas para a criação de novas empresas continuam "salpicados" de favoritismos partidários ou pessoais, empurrando uma larga maioria para as zonas marginais da sociedade, porque não têm outro lugar, transformando o desafio económico em problema social. E este ambiente vai crescendo, e chega a um momento em que não há mais "rede" para segurar o quer que seja.

A parte mais visível é a contestação nas ruas, mas existe um outro movimento, silencioso, a que devemos estar atentos. Jovens quadros estão a desistir do seu País, muitos com formação superior, ou já com uma profissão, fazem as malas possíveis e vão para o estrangeiro à procura dos salários mínimos nesses países, que, juntamente com os apoios sociais, lhes permitem ter uma vida melhor. Parece um contra-senso, e na verdade é, um País que tem tanto por fazer, que precisa de todos, mas que na verdade vê muitos dos que já estão qualificados a ir embora, e que não consegue dar educação e emprego aos que ficam.

Este paradigma não tem uma solução fácil e rápida. E não tem apenas a ver com a economia. Exige reformas estruturais, que têm a ver com o sistema educativo da base até ao topo, para que os nossos jovens quando cheguem à maioridade estejam preparados para exercer um trabalho de forma digna e eficiente, independentemente de futuras formações nas mais diversas áreas. São valores, como assiduidade, lealdade, profissionalismo, pontualidade, capacidade de trabalho, etc.

Como podemos ter empresas de sucesso, se os trabalhadores não têm rentabilidade? Como se pode combater o desemprego sem empresas sólidas? E não vale a pena continuar a pensar que o desenvolvimento da nossa economia se vai fazer eternamente com consultorias externas. Até porque muitas delas, que se mantém nos ministérios e empresas públicas, não acrescentam nada às organizações e dão apenas jeito, e "jeitos", a quem decide. Temos de qualificar os nossos quadros, valorizá-los, dar-lhes condições para terem uma vida melhor, e claro, exigir-lhes que tenham uma prestação profissional de acordo com os parâmetros internacionais. Mas as empresas também têm de se habituar a pagar bem aos bons quadros nacionais e a não premiar os maus, mesmo que sejam do partido ou das famílias da elite. Esta realidade da maioria das instituições públicas é que leva muitos a desistirem. O emprego e o empreendedorismo não se estimulam apenas com programas, dádivas e subsídios, mas fundamentalmente com o reconhecimento do mérito de quem efectivamente merece.