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Opinião

O Nobel da Economia, uma maldição e a sua utilidade prática

Convidado

Muitas vezes até a classe dos economistas e, muito mais frequente os profissionais e investigadores de outras áreas, colocam em duvida a aplicabilidade prática dos trabalhos laureados pela Real Academia Sueca das Ciências, remetendo tais pesquisas meramente ao campo académico ou didáctico, mas a verdade é que a "praticidade/utilidade" destes trabalhos é sentido na vida prática em situações da vida e muitas vezes da economia real, que muita gente dá como adquiridas, mas se prestarmos bem atenção há sempre uma melhoria ou inovação no processo que derivou do estudo ou da pesquisa premiada.

Este foi o ano de duas distintas figuras académicas norte-americanas, Paul Robert Milgrom, de 72 anos, e Robert Butler "Bob". Wilson, de 83 anos, ambos economistas professores na Universidade Stanford, Palo Alto, Califórnia, Estados Unidos da América.

A grande curiosidade é que os dois partilham o nome "Robert", dão aulas na mesma universidade e são vizinhos de rua, o professor Paul R. Milgrom nasceu em Detroit, Michigan, Estados Unidos da América, PhD em 1979 pela Universidade de Stanford, sendo que actualmente é professor desta mesma Universidade. Por outro lado, Robert B. Wilson nasceu em Geneva, Estados Unidos da América, fez o seu Doutoramento em Harvard em 1963, é professor emérito também na Universidade de Stanford.

O trabalho dos vencedores aportaram importantes contributos para "melhorias na teoria dos leilões e a invenção de novos formatos de leilões" porque ajudaram a explicar e entender a lógica por detrás da formação dos preços de venda nos leilões, bem como criaram formatos de leilões para poder vender bens que tradicionalmente são difíceis de vender pelas suas características pouco ortodoxas, como ondas de rádio e direitos de emissão carbónica, que como se pode ver, muito diferentes dos bens "normais" transaccionados em leilões.

A pesquisa teórica dos professores Milgron e Wilson tem como principal fundamento o facto dos oferentes racionais tenderem a apresentar ofertas abaixo daquela que é a sua melhor estimativa sobre o valor comum, ou seja, pagar sempre abaixo do que se entende ser a melhor proposta de compra, por estarem preocupados com o que se chama a "maldição do vencedor", ou seja, apesar de ser o comprador (vencedor) do bem, a maldição é pagar mais do que eventualmente poderia, e por este motivo, ter prejuízo ou ganhar menos do que poderia ter sido possível.

Esta é uma pesquisa que tem implicações vastíssimas na economia mundial e na verdade está alinhada com o princípio da racionalidade económica em que os agentes preferem sempre pagar menos na procura da maior utilidade possível, para os diversos promotores dos leiloes, no sentido de procurar sempre a melhor conjugação custo beneficio, pois optimiza a forma como os compradores podem estabelecer os melhores preços ou ofertas de compra, bem como fornece aos promotores
dos leiloes subsídios para melhor organizar ou montar estes mesmos leiloes, no sentido de extrair maior receita/utilidade possível.

A pesquisa aprofundou e expandiu o campo de analise sobre a importância e funcionamento dos leilões, também responde a perguntas teóricas fundamentais, tais como os oferentes se comportam em leilões de diferentes formatos e em diferentes condições de acesso a informação, bem como responde a importantes questões práticas, tais como, os reguladores e governos devem desenhar os leilões por forma a maximizar o seu valor social.

No que respeita a melhoria da teoria dos leilões a pesquisa demonstrou que os leilões diferem em dois aspectos essenciais, no formato e na informação. Quanto ao formato, teremos as regras de anúncio dos preços, como os participantes fazem as suas ofertas, como os preços são actualizados, como os leilões são fechados e como os vencedores são escolhidos.

*Mestre em Finanças e docente universitário

(Leia o artigo integral na edição 600 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Novembro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)