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Angola

Morreu o Mestre Kapela "figura seminal da arte contemporânea em Angola"

Aos 73 anos, vítima de Covid-19

Paulo Kapela, o profeta de África, como alguém lhe chamou, morreu hoje, aos 73 anos. Acredita-se que "confortado" pela felicidade suprema de um punhado de amigos e colegas artistas da Fundação Arte e Cultura que organizaram no último fim-de-semana uma exposição/tributo intitulada "Paz e Amor", na Galeria Tamar Golan.

Nascido na província do Uíge, na fronteira com o Congo em 1947, Kapela foi um autodidata que viveu a primeira parte da sua vida entre Angola e o Congo, enquanto trabalhava e aprendia com outras correntes em Brazzaville e em Kinshasa, onde ele seguiu a escola Poto-Poto. Fixou-se em Luanda e abriu o seu atelier onde conheceu vários artistas, que mais tarde se tornaram membros activos e importantes da UNAP (União Nacional dos Artistas).

Ao Expansão, Paula Nascimento lamenta a "partida de um grande artista e de uma pessoa de extrema generosidade". Arquitecta e curadora define o Mestre Kapela como "figura seminal no desenvolvimento da arte contemporânea em Angola, conhecido por obras icônicas como as instalações de altares, e pelo uso de colagem, texto e narrativa para produzir peças complexas que se entrelaçam", muito associadas à sua vida de migrante entre Luanda e o Congo, "entre ser simultaneamente local e estrangeiro no quadro histórico da política", refere.

A Curadora, "leão de ouro" da Exposição Internacional de Artes Bienal de Veneza 2013, destaca ainda o "período difícil, vivendo em condições precárias", que despertaram em Paulo Kapela um novo espírito criativo, com experimentação de novas técnicas e novos materiais, o que "lhe trouxe reconhecimento mundial", salienta Paula Nascimento.

Trabalhos do Mestre Kapela estiveram em exposições na Bienal de Veneza 2007 e Luanda Smooth and Rave em Bordéus 2009. A curadora alemã, Nadine Siegert considera que "apesar deste reconhecimento internacional, o seu trabalho apenas se pode compreender no contexto local, ou seja, no seu ateliê no centro da cidade de Luanda".

Entre muitas outras distinções, destacam-se, em 2003, o Prémio de CICIBA - Centro Internacional de Civilizações Bantú em Brazzaville (República do Congo), e no passado dia 6 de Novembro foi agraciado com o Prémio Nacional de Cultura e Artes 2020. Já não esteve presente na recepção do prémio por se encontrar doente.

Nadine Siegert, especialista em estudos de arte africana, considera que Kapela têm "um lugar de excepção no contexto artístico no boom da capital de Angola", destacando-o como o "mestre artístico e espiritual para a nova geração de artistas".