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Opinião

Bónus de Natal

Editorial

Parece muito estranho que 20 dias depois de aprovado, o valor do bónus de Natal dos deputados ainda não tenha sido divulgado oficialmente, uma vez que se trata de uma verba fixa para cada um dos deputados e não obedece a contas complicadas.

Os líderes das bancadas parlamentares sacodem a comichão provocada pelos comentários arrasadores da maioria da sociedade civil com o argumento que é a secretaria-geral da AN que deve falar sobre o assunto. Pedro Nery, o secretário-geral, refere apenas a tradição para defender a resolução, mas também não apresenta o valor.

Alguns deputados, especialmente os mais novos, sempre vão dizendo que não entendem a atribuição deste bónus em tempo de crise. Nem a maioria dos angolanos, diga-se. Numa época festiva, em que muitos cidadãos perderam o emprego, outros que não vão receber subsídio de Natal pelas dificuldades das entidades empregadoras, e ainda muitos outros que estão a acumular ordenados em atraso, como se pode achar que, por tradição, os deputados têm direito a aprovar para si próprios um bónus? Já imaginaram se todas as classes profissionais pudessem aprovar para si também um "extra" para o Natal?

O que é também profundamente errado é os parlamentares acharem que não devem uma explicação, lógica e sustentada, a todos nós. A forma como passeiam a sua impunidade afasta cada vez mais os cidadãos da política e descredibiliza os deputados. Para os mais velhos isso já não é problema, mas para os mais novos, que entram neste mundo com uma ideia de missão e mudança, deve ser difícil de aceitar. Percebemos nos últimos dias que nos dois principais grupos parlamentares há divergências importantes na forma como este processo foi conduzido. Infelizmente, não foi a ala do bom senso que ganhou.

Mas também descredibiliza o governo. A ministra Vera Daves corre o País e o mundo a defender que os recursos devem ser bem aplicados, garante que todo o dinheiro disponível vai ser bem gasto, que as prioridades estão identificadas, e depois a "casa das leis" numa folha A4 "acaba" com o seu discurso. Acham mesmo que um empresário que está em enormes dificuldades para manter o seu negócio e os seus empregados fica indiferente a estas notícias? Que um cidadão vai pagar impostos depois de saber para onde está a ir o seu dinheiro?

Mas tenho uma curiosidade. Quero ver se alguns deputados vão fazer o estorno deste valor quando for depositado na sua conta, se de forma individual ou em grupo vão utilizar este valor para ajudar quem realmente precisa. Como estamos a apenas dois anos das eleições legislativas, o que estimula as atitudes "nobres", talvez seja o momento de os deputados mostrarem solidariedade com os seus concidadãos e recusarem este bónus. Este é o desafio que deixo aos grupos parlamentares.