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"A crise devia servir para sermos mais patriotas"

9 DE MAIO - RÚBIO PRAIA

Acaba de editar o seu primeiro livro, Balumuka, e ambiciona viver da escrita, onde ganhou experiência como jornalista em vários meios de comunicação. A "falta de amor ao próximo" é o maior problema dos angolanos, mas a "esperança" é a maior qualidade, defende.

Acaba de editar um livro, Balumuka, que em kimbundo significa "despertar" ou "acordar". Significa que acordou para a escrita?

Sim. A obra, que será lançada em Junho, no Instituto Camões, em Luanda, marca o início da minha carreira como aprendiz de escritor. É um apelo para que deixemos de ser indolentes e olhemos para a fuga à paternidade, a escalada do crime, a proliferação de igrejas, a falta de bibliotecas e de casas de cultura, o analfabetismo, a prostituição, o lixo e a malária com outros olhos.

É uma obra crítica, ou também contém optimismo?

O livro resulta de uma compilação de crónicas literárias e jornalísticas desde 2004. São meras sugestões sociais, com algumas críticas construtivas, é obvio. No Balumuka há pessoas como o músico Ndaka Yo Wiñi, que transpira africanidade, a Leila Lopes, Miss Universo 2011, Pepetela, Gabriel Tchiema, o mecenas Rui Ramos, o artista Ngoi Salucombo, Desmond Tutu, as nossas kizombadas e uma "referência" aos finados André Mingas, Beto Gourgel, Gabriela Antunes, Óscar Ribas, Costa Andrade, Raul David, Henrique Abranches, Action Nigga e Nelson Mandela. Penso que o meu optimismo foi neste caminho, indicando nomes que devem orientar a nossa conduta, temos de pesquisar mais sobre estas figuras e inspirar-nos nelas para fazermos uma Angola "bué fixe".

É jornalista há alguns anos. O jornalismo dá-lhe um olhar mais crítico da realidade?

Sim, sobretudo nas vestes de repórter das áreas social e cultural do Agora, onde labutei durante dois anos. Quando estamos ligados ao povo, tomamos contacto com determinadas realidades de uma Luanda profunda e nunca mais somos os mesmos.

Teve algum apoio para publicar este livro?

Sim, da Fundação Arte e Cultura, do Dr. Eugénio Neto (da LS Produções), da minha família e de outras entidades que preferem não ser mencionadas, às quais agradeço profundamente o inestimável apoio.

Faltam apoios aos jovens escritores?

Sim. A educação deve começar no ventre. Para os jovens escritores, deve haver um rigoroso acompanhamento e motivação, ou não teremos autores como Pepetela, Manuel Rui, Roderick Nehone, Albino Carlos, José Luís Mendonça e Carlos Ferreira "Casse" entre outros.

Como olha para a crise?

É reflexo da queda do preço do crude, mas devia servir para sermos mais patriotas.

Quer viver apenas da escrita?

É um sonho, mas por enquanto começo pelo lançamento do Balumuka e depois o tempo dirá.

Os jovens dão importância a mais ao dinheiro?

É relativo. Se me dirigisse essa questão, diria que não dou tanta importância, mas ajudava ter para realizar projectos culturais. Às vezes queremos a realização imediata e, há quem pense que o dinheiro é a via mais rápida.

Qual é o maior problema da sociedade angolana?

Poderia dizer que é a falta de amor ao próximo, e depois ocorre uma reacção em cadeia.

E a maior virtude?

A esperança. Nós somos um povo que sofreu bastante e que olha para o futuro expectante.