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Opinião

Os proteccionistas de Luanda e Kinshasa

Editorial 389

Ao ver bloqueados os camiões de cimento angolano na fronteira com a RDC, o governo provou do seu próprio veneno

Há umas semanas quase uma centena de camiões angolanos carregados de cimento ficaram bloqueados na fronteira com a República Democrática do Congo.
Segundo a comunicação social congolesa citada pela TelevisãoPública de Angola, o bloqueio, entretanto resolvido, surgiu na sequência de uma decisão das autoridades congolesas de suspender as importações de cimento e de outros produtos, como o varão de ferro para betão e o açúcar, medidas justificadas com a necessidade de travar as importações fraudulentas desses produtos, por "ameaçar" a indústria nacional congolesa.
Angola está a provar do seu próprio veneno. Desde 2014 que as autoridades de Luanda proíbem as importações de cimento com os mesmos argumentos protecionistas das congéneres de Kinshasa.
A manutenção, em 2016, da proibição de comprar cimento ao estrangeiro visa, segundo o governo angolano, acautelar as importações "desnecessárias" de cimento, na defesa da produção e da indústria nacional. O país já produz oito milhões de toneladas anuais para um consumo interno estimado em pouco mais de cinco milhões de toneladas, acrescido do facto de, ao longo do ano de 2015, se terem constatado indícios crescentes do nível de exportação de cimento sem colocar em causa as necessidades internas.
Se bem percebi, a lógica das autoridades angolanas é proibir não só as importações de produtos, nos casos em que a produção nacional é suficiente, mas também as exportações, se as vendas para o estrangeiro colocarem em causa as necessidades internas.
No limite dos limites, Angola passaria a viver praticamente em autarcia, isolada do resto do mundo, limitando-se a comprar ao estrangeiro só o que não produz internamente e a exportar apenas
se a produção nacional exceder as necessidades.
Em matéria de proteccionismo, Angola e o Congo estão bem um para o outro. Aliás não é por acaso que os dois países são os únicos da SADC que não aderiram à zona de comércio livre da organização.
A intenção das autoridades de Luanda e Kinshasa é boa. Mas de boas intenções está o inferno cheio.
A proibição de importações cria rendas que vão encher os bolsos dos produtores à custa da maioria, isto é, dos consumidores que terão menor variedade de escolha e pior qualidade, a preços mais caros. Aliás não é por acaso que a Associação da Indústria Cimenteira de Angola não só apoia como é autora moral da ideia peregrina de proibir as importações de cimento.