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Emissão de "quase moeda" abre portas a novo colapso financeiro

ZIMBABUÉ

O banco central do Zimbabué está a criar substitutos do dólar no sistema bancário electrónico e esse dinheiro "não tem o apoio de reservas monetárias suficientes ou ouro", no fundo, o pré-requisito de qualquer unidade estável, dizem os analistas. "Quase moeda" é conhecida por "zollars".

A oposição e vários economistas alertaram esta semana que as autoridades do Zimbabué estão a emitir moeda "a partir do nada", ou seja, sem colateral e sem controlo, uma prática que pode atirar o país para o segundo colapso financeiro em menos de uma década.

Quando o presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, desmantelou o dólar zimbabueano em 2009, a maioria da população achou que isso significava o fim da imprevisibilidade e da hiperinflação que tornara a moeda daquele país sem valor.

A adopção do dólar dos EUA e do rand sul-africano há oito anos trouxe disciplina financeira e estabilidade cambial ao país. Hoje, a velha nota de 100.000.000.000.000 do dólar do Zimbabué nada vale. No entanto, as autoridades estão "a criar o seu próprio dinheiro a partir do nada", dizem vá- rios economistas e políticos da oposição, citados pela agência noticiosa Reuters.

Recentemente, o governo contraiu empréstimos via títulos de tesouro para pagar serviços civis a empresários próximos de Mugabe. No ano passado, o Zimbábue lançou uma "quase moeda" projectada para aliviar a escassez de divisas dos EUA e da África do Sul no país. Este programa foi apoiado (colateral) por um empréstimo de 200 milhões USD do African Export Import Bank.

Mas o banco central também está a criar substitutos do dólar no sistema bancário electrónico, numa escala muito maior, e esse dinheiro "não tem o apoio de reservas monetárias suficientes ou ouro", no fundo, o pré-requisito de qualquer unidade está- vel, adianta a Reuters.

São esses dólares electrónicos, apelidados de "zollars" por vários economistas, que estão a ser emitidos sem controlo ou sem colateral que poderão atirar o país novamente para o abismo. Um consultor de uma agência internacional adiantou ao Expansão que a emissão destes "zollars", uma "quase moeda" para reduzir o impacto de uma forte escassez de dólares ou rands não seria um problema desde que fosse sustentada num colateral", como reservas monetárias ou reservas de ouro. No entanto, no caso do Zimbabué, como não há colateral, esta será "uma receita para o caos".

Risco de colapso financeiro

Actualmente, tudo indica, segundo os analistas, que o Zimbabué se dirige para o segundo colapso financeiro só numa década.

"É um esquema de Ponzi, um esquema de pirâmide. A implosão está a chegar. Não se pode desafiar a economia. Não se pode desafiar os fundamentos", disse o ex-ministro das Finanças daquele país, Tendai Biti, à Reuters. Actualmente lí- der da oposição, continua a ser um opositor firme a Mugabe, de 93 anos, e conta com a opinião de alguns economistas que compartilham as suas preocupações.

"Eles estão a criar dinheiro sem controlo, é apenas dinheiro de ficção", disse à Reuters um analista de uma empresa de gestão de activos sedeados em Harare. "A questão é quanto tempo podem continuar a fazer isso até que o sistema desmorone?", questiona o analista.

Desde o início da "dolarização" da economia, o banco central do Zimbabué não publicou os números da reserva de moeda estrangeira, mas no mês passado anunciou que os bancos locais tinham 250 milhões USD em contas offshore, o equivalente aos gastos com importações em duas semanas.