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Opinião

Dia de África

José Rodrigues

Escrevo este artigo no dia de África. Dia de um continente tão especial e tão mágico. Li algures que nem todos nasceram em África, mas África nasceu em todos nós. Não poderia estar mais de acordo.

Tive oportunidade de viver e trabalhar aproximadamente 8 anos em África e transformou-me. Para sempre. Aprendemos imenso, a todos os níveis. Aprendemos a dar valor ao que realmente importa. Por vezes, preocupamo-nos com tantas futilidades e quando estamos em África aprendemos a não dar importância à maioria delas.

Damos valor a ter energia, água, segurança, alimentos básicos. Mas também reaprendemos a criar novas amizades, novas famílias e novos amores. Apaixonamo-nos pelo calor, pelas cores, pelos cheiros, pelo "cair do sol", pela música, pelo sorriso genuíno das crianças, pela vontade de aprender e desenvolver dos adultos.

Mas também aprendemos a ser mais resilientes. Não é fácil na maior parte das vezes o que vai acontecendo no dia a dia.

Por ventura, ganhamos uma capacidade incrível de relevar o que se vê nas ruas. A pobreza, crianças mal nutridas, jovens "perdidos". Polícias menos sérios, o desespero de lidar com instituições públicas. Como referia, a resiliência é talvez uma das características que mais desenvolvemos em África.

Mas, mesmo assim, também aprendemos como pode ser fácil darmos valor ao que temos. E ao que ganhamos. Sermos autênticos é fundamental. Só assim, podemos também exigir autenticidade. E sermos autênticos significa que nos devemos abrir e sermos vulneráveis. Faz bem e os resultados são incríveis.

Alguns poderão abusar? É um facto. Mas o retorno dos que fazem o mesmo que nós, é incrível e o sentimento de preenchimento é fantástico.

O crescimento a nível profissional é também notável. África é um continente de enormes recursos, de negócios que envolvem, na sua maioria, números muito elevados, o que traz uma responsabilidade de enorme dimensão aos profissionais das mais variadas funções e indústrias. Não só responsabilidade, mas também competência e capacidade de, mesmo trabalhando em locais muitas vezes adversos, resolver e entregar o que é exigido.

Como me dizia um profissional reconhecido de outplacement de executivos baseado em Londres, "se consegues fazer acontecer em África, consegues fazer acontecer em qualquer lado do mundo".

Mas também se aprende imenso com a maioria dos profissionais Africanos, que, para os mais distraídos, são de elevada competência e lealdade.

Em suma, quem por lá passou sente saudade. E muita. Fica sempre a sensação de que faltou fazer algo e de querer voltar.

Fica em nós e não sai mais. Como a Coca-Cola, primeiro entranha-se e depois entranha-se. Ou, como se diz em Angola, que se bebeu água do Bengo e já não sai mais de lá.

África é mágica, é sentimento, é o berço da humanidade. Merece mais dos outros povos, mas, acima de tudo, merece respeito e consideração. Merece que olhem com olhos sérios e não de oportunismo imediato. Merece que se invista, e que se aposte nas pessoas.

Para isso, África tem também de continuar a investir nos seus líderes e exigir deles a maior competência.

Isto porque o mundo é cada vez mais global. A tecnologia aproximou de tal forma os diferentes povos que tudo parece tão rápido e tão dinâmico. O chamado mundo VICA, volátil, incerto, complexo e ambíguo. Desta forma, África está cada vez mais perto de todos e cada vez será um continente mais influente no mundo. Mas também, África tem de aprender a ser mais solidária entre os seus países. Devem trabalhar mais juntos, mais unidos. Povos irmãos não se podem tratar com rivalidades tribais ou fronteiriças.

Se o desporto consegue aproximar países, culturas e religiões, devemos aprender com ele. E devemos transportar essa aprendizagem para outros sectores, como política, economia e sociedade.

Em Angola, diz-se "estamos juntos". Porque não estarmos todos? Não só em África, mas nos vários povos?

Como diz o famoso provérbio africano, "sozinho vou mais rápido, juntos vamos mais longe".