Vale a pena*
Vale a pena ser jovem, mesmo sabendo que a época é difícil e é necessário ultrapassar dificuldades, aprendendo a viver num Mundo onde a competitividade e a iniciativa são palavras de ordem.
O facilitismo e a globalização provocaram nos jovens hábitos de consumo e de vida quase automáticos, esquecendo-se que vivem num Mundo a duas velocidades, com desequilíbrios acentuados e onde a pobreza faz com que as desigualdades sejam cada vez mais acentuadas.
É preciso ensinar os jovens de hoje a viver em ambiente de dificuldade, mostrando-lhes as oportunidades, mas fazendo-os perceber que só vence quem não desiste e luta de forma humilde e entusiástica.
De igual modo, àqueles que vivem mais distantes dos centros urbanos, ou mesmo os mais pobres, é preciso dar-lhes melhores condições, apostando na sua educação e motivação para também eles se sentirem incluídos e humanizados.
Todos os dias a vida nos traz assuntos novos, desafios. É preciso estar atento e saber responder com prontidão e conhecimento, estar disponível, sendo necessário aprender, aprender, aprender.
Todos nós, como os jovens, devemos tratar o conhecimento como a nossa língua, numa visão universal, a única forma de quebrar a rotina da ignorância e aceitar as oportunidades.
Olhando sobre a realidade Angolana percebemos que os jovens necessitam de alento, coragem, perspectivas de futuro, vocação.
Existe uma "falha" entre o ensino e a oportunidade de emprego, que provoca desajustes acentuados entre a vocação e a realização pessoal, já não falando entre a formação e o rendimento mensal.
Existe, por isso, um conjunto de características, que se tornaram rotina nos jovens e que é preciso contrariar, como sejam:
¦ Despreocupação e desmotivação sobre o futuro;
¦ Facilitismo e falta de sentido de poupança;
¦ Falta de concentração sobre objectivos;
¦ Falta de foco vocacional e vontade de concretizar;
¦ Falta de visão de vida e esperança;
¦ Falta de procura de acompanhamento (tutoria);
¦ Baixa capacidade de luta / persistência;
¦ Falta de sentido ganhador, orgulho próprio;
Não pretendo generalizar, mas muitas destas características resultam da falta de alinhamento entre os pais e a educação escolar, claro que tanto maior quanto mais baixa é a qualidade de vida, que nestes casos leva mesmo ao abandono escolar e à vida de rua.
Ensombra-me o coração, sempre que viajo pelas nossas províncias e vejo as crianças a brincar na companhia das cabras e dos porcos, sem qualquer acompanhamento, muitas delas fora das escolas.
De facto, a família e a escola são os dois focos de crescimento e acompanhamento, em todos os níveis da vida, seja quando somos filhos, seja quando já somos pais ou mesmo avós.
O importante é ensinar aos jovens o prazer de resistir à tentação de desmotivar, não esperando que a sorte bata à porta, mas sim fazê-los perceber que a sorte repetida resulta da competência e da luta contínua e que a pouca sorte repetida acaba por ser incompetência.
Não existindo receitas daria algumas pistas aos jovens:
¦ Construir um projecto de vida;
¦ Basear a sua vida num progresso continuado;
¦ Construir uma vocação;
¦ Ser um pensador realista e coerente;
¦ Saber educar e gerir o seu pensamento;
¦ Estimular energias positivas à sua volta;
¦ Manter um diálogo permanente com a vida, questionando-se;
¦ Interagir com o progresso, na procura de competências distintivas;
¦ Ter paixão incondicional pela vida e pelas pessoas;
¦ Crescer aprendendo e ensinando;
¦ Proteger-se das emoções negativas;
¦ Reconhecer as dificuldades, transformando-as em oportunidades;
¦ Aprender com os outros, observar, interagir de forma humilde e participativa;
De facto, em quase todas as sociedades menos desenvolvidas ou em vias de crescimento, os jovens são considerados importantes, faltando, no entanto, planos de educação e acompanhamento, que protejam o insucesso escolar e garantam a sua ocupação útil nos tempos livres.
A responsabilidade educativa resulta da participação activa e do alinhamento e entreajuda de pais e professores, que fecham o ciclo de crescimento e integração com a integração dos jovens na sociedade, seja qual for o seu nível etário.
Consideram-se, por isso, responsáveis nesta integração, os Governos e Entidades, as Escolas, as Empresas e todos nós inseridos na sociedade em geral.
Existe, pois, um conjunto de preocupações e linhas chave para o desenvolvimento dos jovens, que deve fazer parte de uma estratégia integrada nacional:
¦ Escolaridade básica centro de crescimento saudável - diminuir Valorização do papel dos professores - reconhecer os professores como os grandes mentores do crescimento saudável, dando-lhes condições e formação;
¦ Pais e professores primeiros educadores - garantir a adesão dos pais ao esforço e dedicação dos professores, criando Comunidades de Ensino e Convergência de jovens / Comunidades Jovens;
¦ Criação de Centros de Orientação Pedagógica - garantir a orientação dos jovens mediante a sua vocação e as necessidades técnicas e profissionais de cada zona;
¦ Garantia de ocupação dos tempos livres - criar centros de lazer, onde seja garantida a ocupação dos tempos livres, como forma de diminuir a entrega ao álcool, à droga ou à delinquência;
¦ Integração social útil - garantir a ocupação e profissionalização útil dos jovens, através da implementação de projectos integrados, que, apoiados em tutores especializados, garantam a sua responsabilização social;
Para a concretização de alguns destes desafios, falta a capacidade de alinhar e integrar muitos dos organismos existentes, desde escolas e universidades, clubes desportivos, centros de empreendimento, organismos locais e instituições políticas e sociais, empresas, entre outras.
Perceberam decerto, que não falo de jovens sem qualidade, falo de jovens desacompanhados, com falta de foco, que ou não têm condições de vida para progredir e crescem de forma "selvagem", ou estudam sem saber para quê, esperando que a sorte os proteja.
Mas, pior ainda, um dos piores flagelos de hoje é a entrega dos jovens à delinquência, ao álcool ou às drogas, tudo porque são manipulados e aproveitados pelo outro lado da sociedade, a sociedade do mal e da destruição humana.
É, por isso, que para além das escolas e da sua preocupação em eliminar o absentismo, gerando riqueza humana, é preciso complementar esse acompanhamento, com a existência de espaços de desenvolvimento social e cultural, onde o fertilizante é a captação do interesse para actividades que produzem uma energia saudável.
Sugiro, por isso, o entendimento e a convergência de todos os organismos existentes destinados ao acompanhamento jovem, considerando:
¦ Actividades desportivas - aproveitamento racional de todos os espaços desportivos (tantas vezes desocupados ou até abandonados), como centro dinamizador das diversas actividades, incluindo a criação e academias de especialidade,
¦ Actividades culturais - dinamização de centros de aprendizagem nos domínios da cultura e da arte, nomeadamente, na recuperação de tradições, do artesanato, da dança, da escultura, da pintura e do cinema, entre outras, incluindo a criação de academias de arte e cultura;
¦ Actividades sociais - criar a cultura de ensino pelos jovens aos mais novos, criando comunidades jovens, geridas por jovens em ambiente de competição saudável permanente; o absentismo e insucesso escolar, chamando à escola pela responsabilização dos pais / educadores;
¦ Actividades de integração - apoiado num estudo sobre os grandes factores críticos da integração social dos jovens, será desejável a definição de uma estratégia integrada, que seja incisiva sobre as ameaças, como sejam o ambiente de rua, o absentismo escolar, as zonas de conflito, entre outras.
A integração dos jovens na sociedade passa, por isso, pelo seu acompanhamento desde criança, garantindo que, com o seu crescimento, a sua energia psíquica é forte, a sua inteligência é orientada para a utilidade, o seu pensamento é organizado e apoiado em objectivos concretos e a sua maturidade permite-lhe ter uma memória de muitos gigas, que alimentam a sua capacidade de decisão e interacção de forma equilibrada e saudável.
E, já agora, sugiro aos organismos e entidades responsáveis pelo crescimento e integração saudável dos jovens, que os tratem como tratam os seus filhos ou familiares mais próximos, dando-lhes condições, acolhendo-os em bons ambientes, tornando-os cada vez mais saudáveis. Só assim teremos uma Angola forte e coesa, num futuro que tudo tem para nos dar. Veremos, então, que vale a pena termos jovens!
*Consultor