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Opinião

Chega de humilhar os jornalistas, Sr. Presidente!

Editorial

Nome de registo, nome pelo qual é mais conhecido, características fisionómicas habituais, nomeadamente tipo de corte do cabelo e da barba, se bebe ou fuma;
Morada, com indicação do n.º da casa, cor e outras características e referências que facilitem a sua localização, telefone, matrícula e cor do carro;
Habilitações literárias com indicação da última escola que frequentou;
Percurso diário habitual e ambientes que frequenta;
Formação partidária em que milita ou com que simpatiza, opinião sobre o País;
Religião que professa e locais de culto;
Número de filhos, esposa/namorada, outros relacionamentos amorosos, além da esposa/namorada, mãe e irmão/irmã e respectivos números de telefone;
Amigos mais chegados, com indicação do n.º de telefone de pelo menos um.
As questões anteriores foram colocadas durante uma "entrevista" a que foram submetidos os jornalistas do Expansão no âmbito do processo de credenciamento junto do Secretariado do Conselho de Ministros da República de Angola.
A convocação dos jornalistas do Expansão, pela Secretaria de Comunicação Institucional e Imprensa de João Lourenço, surgiu após meses de espera de resposta às várias cartas que escrevi, solicitando autorização para fazer a cobertura noticiosa do Conselho de Ministros e de outros órgãos auxiliares do Presidente da República (PR).
Postos lá, os jornalistas do Expansão foram encaminhados para o Cerimonial, que, por sua vez, os encaminhou para, supõe-se, a Segurança do Estado, onde foram entrevistados. Escrevo supõe-se porque nem ninguém explicou quem eram os "inquisidores", nem estes se apresentaram. As entrevistas decorreram simultaneamente na mesma sala sem qualquer privacidade.
Quando os jornalistas do Expansão questionaram a humilhação por que passaram foi-lhes respondido: "É um privilégio para o jornalista estar aqui na Presidência [da República]. Muitos jornalistas estão há muitos anos na profissão e nunca puseram o pé no Palácio [Presidencial]".
Poderia invocar a Constituição e a Lei para questionar a humilhação a que foram sujeitos os meus colegas pelos seus "inquisidores" que mais pareciam saídos da extinta DISA, acrónimo de Direcção de Informação e Segurança de Angola, mas não o farei.
Lembro apenas ao PR João Lourenço que se "à mulher de César não basta ser séria é preciso parecer", em matéria de liberdade de imprensa e de expressão não basta parecer que mudou alguma coisa, é preciso mudar mesmo. A começar pela forma como os jornalistas são (des)tratados pelos seus auxiliares.