Desemprego, inflação, perda de confiança e imagem do País no exterior "beliscada" no rescaldo
Nos próximos 3 a 6 meses, as consequências internas serão a retracção económica, o aumento do desemprego, a subida do preço dos produtos básicos, a desconfiança dos empresários e dos investidores. Lá fora será a quebra da imagem de estabilidade e segurança que era apresentada como uma vantagem competitiva do País.
As consequências dos dias de pilhagens na cidade de Luanda serão a vários níveis - imagem internacional do País "beliscada", com impacto na mobilização de investimento estrangeiro, quebra de confiança com empresários e empreendedores com tendência a fecharem as suas actividades ou fugirem para a informalidade, aumento do desemprego formal, uma vez que muitos milhares têm os postos de trabalho em risco, e aumento da inflação, é de prever que os preços dos bens essenciais possam aumentar de forma anormal por um período de três a seis meses.
"Os impactos são imediatos e de fácil avaliação: aumento do desemprego sazonal jovem ligado ao sector do comércio, redução na oferta de produtos nos próximos três a 6 meses, aumento expressivo nas despesas com prémios de risco por parte das empresas seguradoras que têm contrato de seguro com as lojas vandalizadas e carros destruídos e redução das expectativas de realização de investimentos", explica o economista Wilson Chimoco, que acrescenta: "No médio prazo, aumenta o risco de se fazer investimento em Angola, de uma forma geral, e em particular nas zonas mais afastadas do centro da cidade. Decorrente, de um lado, do risco de novas pilhagens e, segundo, da incapacidade de o Estado proteger os investimentos privados".
O economista acredita ainda que, para além da quebra do desempenho no sector do comércio, poderá assistir-se a uma aceleração na inflação de Luanda em Agosto e quedas na produção - sector dos transportes, comércio e serviços - da capital do país e deterioração das expectativas dos empresários, no curto prazo."
Já para o consultor Emílio Londa, "de imediato, o efeito é de redução do valor dos balanços das sociedades afectadas. Numa perspectiva dinâmica, o risco percebido do investimento aumenta, levando os empresários a tomar decisões de relocalização dos seus investimentos. Por este motivo, é fundamental que o normal funcionamento da economia seja rapidamente reposto e que seja reafirmada a garantia de proteção da propriedade privada, bem como da segurança pública. Este é um investimento que deverá ser feito ao longo dos próximos meses". E acrescenta: "Há ainda outros efeitos dinâmicos que será necessário contrariar, entre os quais destaco a tendência de aceleração do fluxo de saída de quadros, com receio de eventos similares no futuro."
Em termos práticos, como lembra o economista Mateus Maquiadi, as perdas directas têm fundamentalmente a ver com a destruição de bens, saque de mercadorias e danos a infraestruturas públicas e privadas. Os custos indirectos serão a interrupção temporária de actividades produtivas e comerciais, aumento do custo de seguros e a necessidade de reforço de medidas de segurança. E lembra também que terá impacto fiscal com a redução temporária das receitas fiscais devido à quebra de vendas e possíveis incentivos governamentais destinados à reconstrução.
"Apesar de ter durado apenas três dias, a greve não só paralisou a cidade de Luanda como também instalou um clima generalizado de medo. Esse sentimento de insegurança não desaparecerá imediatamente após o fim da greve; ao contrário, tende a persistir por vários dias ou semanas. Em economia, isso é traduzido como uma quebra de confiança - factor essencial para o bom funcionamento dos mercados. Com menor confiança, os agentes económicos tornam-se mais cautelosos, o que pode levar, no curto prazo, a uma redução do ritmo de crescimento económico, retracção do consumo e do investimento privado, além de pressões adicionais sobre os preços de alguns produtos devido à escassez temporária. Já no médio prazo, tudo dependerá da capacidade de reposição das empresas e da resposta do governo", acrescentou o economista.
As respostas do Governo são por agora praticamente inexistentes sobre a forma como poderão ajudar os cidadãos afectados. Por exemplo, o Expansão tentou saber junto da AGT o que pensa fazer a autoridade tributária a propósito do IVA das mercadorias que foram roubadas, já pagas pelos comerciantes, mas que não serão recuperadas uma vez que não foram vendidas. Lembrar apenas que para os alimentos que estão fora do prazo de validade e que os comerciantes não conseguem vender, através de declaração e entrega dos produtos, este IVA é-lhes devolvido pela instituição.
Leia o artigo integral na edição 837 do Expansão, de Sexta-feira, dia 01 de Agosto de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)