Produtos do PRODESI valem apenas 0,9% das exportações
Continua a haver um fosso enorme entre as exportações e as importações dos denominados produtos da diversificação económica, já que o défice comercial subiu 945,7 milhões USD para 1.210,0 milhões USD. País continua a importar, e em grandes quantidades, a maior parte dos bens alimentares que a população precisa.
As exportações de mercadorias, no âmbito do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI), cresceram 44% para 97,0 milhões USD no primeiro semestre deste ano, face aos 67,4 milhões USD registados no período homólogo, ou seja, as exportações valeram mais 29,6 milhões USD nos primeiros seis meses do ano. Se forem consideradas as exportações de produtos em quantidade, as exportações angolanas afundaram 81%, já que no ano passado o País vendeu lá para fora menos 240,8 mil toneladas de produtos diversos, o que significa um aumento do preço médio de venda, o que equivale a dizer que as exportações tiveram maior valor para menor quantidade, segundo cálculos do Expansão com base nos dados da Administração Geral Tributária (AGT).
São os produtos que constam no decreto presidencial n.º 23/19 de 14 de Janeiro, que define os 55 produtos de produção nacional no âmbito do PRODESI, e cujos valores e quantidades exportadas e importadas a AGT apresenta mensalmente .
Tendo em conta que segundo os dados preliminares da AGT sobre as exportações, incluindo petróleo, diamantes e outros, Angola exportou 10.247,7 milhões USD no primeiro semestre, as exportações de produtos do PRODESI representam apenas 0,9% do total das exportações angolanas, conclui-se que a diversificação económica está muito longe de compensar os efeitos negativos que o declínio da produção no petróleo tem provocado aos cofres do Estado, uma vez que 95% das exportações angolanas são petróleo e gás.
Farinha de milho liderou as exportações
No universo dos produtos PRODESI, a farinha de milho liderou as exportações, com as vendas a dispararem mais de 1.000%, passando de 1,7 mil USD para 21,5 milhões USD no I semestre (+19,8 milhões USD), quando no ano passado ocupava a 10ª posição. Em termos de quantidade, o País exportou mais 1.635 toneladas de farinha de milho.
Se, por um lado, as exportações de farinha crescem, por outro, o Ministério da Indústria e Comércio determinou, em Abril, a suspensão do licenciamento da importação deste produto, bem como a farinha de trigo, óleos refinados de girassol, palma e soja com o "objectivo de dar incentivo à produção nacional, promover e aumentar significativamente a oferta interna de bens de amplo consumo, assim como a redução gradual das importações e diversificação das exportações".
Ainda dentro dos produtos alimentares com maiores crescimentos em valor, estão as massas alimentícias, um aumento de 278% para 9,7 milhões USD, seguido do tomate (+5,0 milhões USD) e da farinha de trigo (+1,4 milhões USD).
Já o varão de aço, que até ao final do ano passado era o produto mais exportado por Angola, caiu para terceira posição, ao registar uma queda de 66% nas quantidades exportadas que fizeram cair as receitas em 19%, passando de 12,7 milhões para 10,4 milhões USD, ou seja, menos 2,2 milhões USD em termos homólogos. Na base deste facto está o fraco crescimento da indústria metalúrgica, que praticamente estagnou nos últimos 5 meses (uma média de +0,01%). Aliás, dentro da indústria transformadora, a metalúrgica é dos sectores que menos cresceu este ano.
Para Luís Diogo, director-geral da Fabrimetal (empresa que mais exporta varões de aço em Angola), apesar de o País possuir um potencial significativo em recursos minerais, incluindo ferro, cobre, ouro e outros metais preciosos, a sua exploração e industrialização ainda são limitadas, apontando a falta de investimentos estratégicos e políticas claras, o baixo desenvolvimento tecnológico e qualificação da mão-de-obra, bem como o "excesso de foco no sector petrolífero" como os principais entraves do crescimento desta indústria.
Já uma fonte ligada à banca, aponta que as exportações têm apresentado um desempenho tímido, por pelo menos duas razões: "A primeira, é a baixa produtividade interna para a produção com capacidade de abastecimento do mercado interno e exportação. Segundo, a baixa competitividade dos produtos nacionais, tanto a nível de preços assim como na qualidade, tem penalizado a penetração dos produtos nacionais nos mercados externos". A questão da produtividade e dos custos de produção é transversal a toda a economia nacional.
"Infelizmente, o PRODESI está muito longe de alcançar os objectivos. E isso decorre do facto de não se ter executado o programa nem a 10% do inicialmente previsto, fundamentalmente, na componente do ambiente de negócios", rematou.
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