A evolução do mercado de fusões e aquisições em Angola
Na última década, Angola começou a consolidar um mercado de transacções mais profissional, com maior envolvimento de assessores especializados, instituições financeiras e processos alinhados com boas práticas internacionais, reflectindo maior rigor nos processos de preparação, avaliação e execução.
Nas últimas três décadas, Angola tem vindo a registar uma transformação no seu ambiente económico e empresarial, o qual tem tido um impacto directo no desenvolvimento do mercado de transacções corporativas, abrangendo fusões, aquisições e processos de alienação de activos.
Na década de 90, o mercado de transacções em Angola era ainda muito limitado e pouco estruturado. A maioria das operações era conduzida de forma informal, com reduzida transparência, escassa informação financeira fidedigna e quase inexistência de processos de due diligence consistentes. Com o fim do conflito armado em 2002 e o subsequente ciclo de crescimento económico, o número de transacções começou a aumentar, impulsionado sobretudo pelo sector petrolífero e pela necessidade de reconstrução do país. Na última década, Angola começou a consolidar um mercado de transacções mais profissional, com maior envolvimento de assessores especializados, instituições financeiras e processos alinhados com boas práticas internacionais, reflectindo maior rigor nos processos de preparação, avaliação e execução.
Historicamente, o sector O&G tem apresentado dinamismo transaccional impulsionado pela transferência de participações respeitantes aos consórcios petrolíferos entre players do sector. Disso exemplo foi a alienação pela Galp das participações de alguns activos Angolanos de upstream à Etu Energias, a qual foi concluída em 2024 e resultou de um processo estruturado, apoiado por profissionais de processos de fusões e aquisições. O sector bancário angolano apresenta um potencial de consolidação que alimenta a expectativa de transacções de participações em instituições Financeiras no futuro. No entanto, outros sectores poderão contribuir para atrair capital nacional e estrangeiro, tal como o Agronegócio, projectos de energia renovável ou activos ligados ao desenvolvimento do Turismo.
O actual Programa de Privatizações Angolano (PROPRIV) é uma das mais ambiciosas reformas económicas de Angola que visa ter um papel estruturante no desenvolvimento do País. De acordo com comunicação recente do IGAPE, de entre 163 activos e participações do Estado seleccionados, 110 já foram privatizados a Junho de 2025. A esta data, o PROPRIV está a trabalhar na preparação de activos nos sectores da banca, seguros, telecomunicações, indústria, comunicação social, agropecuária, hotelaria e outros, entre os quais alguns dos mais emblemáticos são o BFA, o Standard Bank, a Unitel e a Sonangol, entre outros. Estas oportunidades, se bem conduzidas, permitirão não só a restruturação dos activos, mas também a geração de receitas públicas e a dinamização da economia real.
A actual conjuntura internacional marcada pela instabilidade no Médio Oriente e pela prolongada guerra entre a Rússia e a Ucrânia tende a criar um ambiente global de incerteza. A volatilidade dos preços do petróleo é particularmente relevante para Angola, cuja economia continua fortemente dependente das receitas petrolíferas. Um aumento da percepção de risco global deverá ter um impacto dual: poderá haver uma retracção nos negócios de investidores estrangeiros com perfil mais conservador mas também um aumento de interesse por parte de investidores mais arrojados que vislumbram potencial de crescimento numa economia emergente e que procuram diversificar geografias, encontrando em Angola activos estratégicos a preços atractivos.
Alguns dos principais temas que são ponderados por investidores estrangeiros num processo de Transacção em Angola são a existência e eficácia de ambiente regulatório, o risco cambial e a agilidade de repatriação de capitais. Adicionalmente, o acesso limitado à informação que permita a valorização do negócio, a competitividade e transparência do processo transaccional e a burocracia de processos de licenciamento são factores que condicionam a conclusão de alguns processos.
Num mercado ainda em desenvolvimento, o sucesso de uma Transacção depende cada vez mais da qualidade do seu planeamento, da preparação das partes e da execução do processo. Nessas etapas, o papel de profissionais experientes e focados nestes processos torna-se decisivo, nomeadamente através do aporte de rigor técnico na avaliação e due diligence aos activos a transaccionar, na estruturação da Transacção, no acesso ágil a uma rede de potenciais investidores e no apoio negocial para maximizar valor para os seus Clientes.
Num ambiente competitivo, quem faz bons negócios, prepara- -se bem - e não caminha sozinho.
JORGE CAMPOS, Partner da PwC