Alinhamento de valores: O caminho da nova consciência
Organizações alinhadas são mais atractivas para os melhores talentos. São espaços onde as pessoas não apenas trabalham, mas também se desenvolvem, constroem relações saudáveis e sentem-se parte de algo maior. E mais do que isso: tornam-se agentes de transformação social.
Num mundo que valoriza cada vez mais o progresso rápido, as metas alcançadas e a produtividade sem pausa, começa a emergir uma consciência colectiva que nos convida a olhar para além do desempenho individual. Hoje, mais do que nunca, entende-se que nenhuma organização cresce de forma sustentável sem que as pessoas cresçam juntas. E neste contexto, o alinhamento de valores deixa de ser uma busca apenas pessoal para se tornar um compromisso colectivo. O alinhamento de valores não é um detalhe; é o alicerce que sustenta a integridade das relações e a coerência entre o que se diz e o que se faz. Quando esse alinhamento é vivido em colectivo, cria ambientes seguros, equipas com identidade e organizações com propósito. Quando os valores individuais e organizacionais caminham em sintonia, o ambiente transforma- -se, as relações tornam-se mais saudáveis, e os resultados são consequência natural de uma cultura bem enraizada.
Essa realidade torna-se evidente quando olhamos para as consequências da sua ausência. Lembro-me do caso do Manuel, um profissional comprometido, com anos de entrega exemplar numa empresa de referência. Desde o início, o Manuel acreditava que a transparência e o respeito mútuo eram princípios inegociáveis no ambiente de trabalho. Contudo, o seu líder directo valorizava mais a aparência do que a verdade, mais a conveniência do que a coerência. Reuniões que deveriam ser espaços de escuta tornaram-se momentos de imposição. Decisões que deveriam ser partilhadas passaram a ser unilaterais. O Manuel, movido pelos seus princípios, tentou dialogar, sugerir melhorias e alinhar expectativas. Mas a incongruência era persistente.
Com o tempo, o desânimo instalou-se. A motivação caiu, a criatividade estagnou e o impacto do Manuel foi diminuindo. Não por falta de capacidade, mas porque o ambiente não favorecia a expressão dos seus valores. E esse desgaste silencioso, vivido por muitos profissionais, não afecta apenas o indivíduo, impacta toda a equipa. Quando um talento se sente incompatível com a cultura real da organização, todos perdem: o colaborador, os colegas e os resultados.
Falar de alinhamento de valores nas equipas é entrar num terreno profundo e transformador. Não se trata apenas de ter um código de conduta pendurado na parede ou frases bonitas escritas nos e-mails corporativos. Trata-se de uma vivência diária, feita de escolhas coerentes, de posicionamentos firmes e de uma ética relacional que sustenta cada interacção. Quando uma equipa compreende os seus valores partilhados e age a partir deles, ganha força, coesão e identidade. Equipas maduras sabem que não se trata de quem tem razão, mas do que faz sentido para todos. E nesse espaço, a colaboração supera a competição, cria-se um ambiente onde as pessoas sentem-se pertencentes, respeitadas e chamadas à responsabilidade mútua.
Mas este caminho exige maturidade emocional. E é aqui que a gestão das emoções ganha um papel central. Um grupo emocionalmente maduro é capaz de lidar com diferenças sem conflito destrutivo, de escutar antes de reagir, de fazer críticas construtivas sem ofender e de receber feedback como uma ponte para crescer. Quando os valores colectivos estão alinhados, até os momentos difíceis são vividos com mais sabedoria. O ego individual dá lugar ao "nós", ao compromisso com algo maior do que o interesse pessoal. E esse é o verdadeiro ganho de uma cultura com propósito: transformar a performance numa entrega com sentido.
Não se pode falar de alinhamento colectivo sem tocar na importância da disciplina. Não uma disciplina imposta, mas uma que nasce do respeito partilhado pelos princípios que regem o grupo. Equipas que têm clareza sobre os seus valores conseguem tomar decisões mais ágeis e coerentes, não perdem tempo com ruídos internos, nem com jogos de poder. Existe um tipo de liberdade saudável: a liberdade de ser autêntico dentro de limites éticos bem definidos. Esta disciplina partilhada permite que as organizações caminhem com consistência, mesmo em tempos de crise.
A psicologia e a neurociência ajudam-nos a perceber como ambientes alinhados activam o melhor de cada pessoa. A neuropsicóloga Ana Barrigão tem defendido, com base em estudos e experiências práticas, que quando há clareza emocional e estrutura de pensamento colectivo, há também mais foco, maior colaboração e menos desgaste. Os cérebros sentem-se mais seguros e menos ameaçados, o que abre espaço para a criatividade, resolução de problemas e inovação. E o que parece apenas abstracto, transforma-se em indicadores: desenvolvimento de talentos, redução do absentismo, mais produtividade e uma reputação organizacional sólida.
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**PAULA DE PAULA, Formadora | Analista comportamental e de carreira