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O que fazer com o medo?

EM ANÁLISE

Sentirmos medo é normal. O medo é até extremamente necessário, para nos proteger. Se tivermos medo de andar sozinhos à noite, medo de comer algo com um cheiro estranho, medo de entrar num local desconhecido e sombrio, medo de escorregar e cair, medo de pessoas armadas, iremos provavelmente evitar situações de risco. O medo salva-nos (...) mas não podemos viver só com medo.

Na última segunda-feira de Julho, muitas pessoas foram para os seus empregos, apesar da greve dos taxistas.

O trabalho começou normalmente, mas, ao longo do dia, as notícias iam chegando e, com elas, a preocupação de quem trabalhava na cidade e vivia no Camama, no Kilamba, e noutras zonas da cidade: Como ir para casa? Como estariam os filhos, em casa? Será que estavam em segurança? Será que já se podia ir? Qual o melhor caminho?

Algumas pessoas, a caminho de casa, viram os pneus queimados, o lixo nas estradas, as pedras no chão, mas também pedras a serem arremessadas contra os carros, viram os carros da polícia. Algumas pessoas paralisaram, com medo. Outras procuraram caminhos alternativos, desesperadas, tentando apenas chegar a casa. A maioria das pessoas estava muito assustada. Algumas pessoas ouviram tiros e foram como que transportadas para eventos vividos no passado. Algumas pessoas ficaram traumatizadas e não conseguiram sair de casa nos dias seguintes, mesmo depois do fim das manifestações.

Sentirmos medo é normal. O medo é até extremamente necessário, para nos proteger. Se tivermos medo de andar sozinhos à noite, medo de comer algo com um cheiro estranho, medo de entrar num local desconhecido e sombrio, medo de escorregar e cair, medo de pessoas armadas, iremos provavelmente evitar situações de risco. O medo salva-nos, muitas vezes.

Mas não podemos viver só com medo. O medo frequente, persistente, intenso e causador de sofrimento significativo ou prejuízo funcional pode justificar a atenção clínica e estar na base de um diagnóstico de transtorno de ansiedade ou relacionado ao medo (CID- -11, 2023). O medo excessivo pode ser sintoma de um transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico, agorafobia, fobia específica, transtorno de ansiedade social, transtorno de ansiedade de separação e mutismo selectivo.

A ansiedade tem a ver com a sensação de ameaça no futuro: vai acontecer uma desgraça, vou morrer, vamos dar-nos mal, o avião vai cair, e outros. O medo, por sua vez, está relacionado com as reacções psicofisiológicas face à percepção de ameaça imediata.

No consultório, não podemos garantir que as situações estressoras não voltem a ocorrer, não podemos assegurar que a situação estressora "vai passar" e "vai ficar tudo bem", não podemos modificar o comportamento de terceiros. O que podemos fazer é levar o paciente a buscar em si as soluções, colocando-se a questão: "O que é que eu posso fazer?".

O que podemos nós fazer com o medo, apesar do medo, ou mesmo contra o medo?

O psicólogo espanhol Rafael Santandreu explica-nos que a resposta está na terapia comportamental, também conhecida como terapia de exposição. Vejamos a proposta de Rafael Santandreu, na sua obra "Sem medo - o método comprovado para superar a ansiedade, a obsessão, a hipocondria e qualquer temor irracional" (2021). O autor propõe quatro passos para se perder o medo do medo:

1. Enfrentar

Segundo Santandreu, devemos parar de evitar. Será necessário enfrentarmos o medo, a ansiedade, todos os dias, através da exposição ao mesmo, até que fique desactivado e desapareça. Por exemplo: se temos medo de sair de casa, é preciso sairmos todos os dias, indo a cada dia um pouco mais longe; se temos medo de voltar a conduzir, é preciso conduzirmos todos os dias um pouco. Até que o medo desapareça.

2. Aceitar

Aceitar significa, para o autor, "abrir-se integralmente a tudo o que estamos a sentir quando passamos pelo pior". A aceitação total implica: "deixar de lutar; deixar de fugir; entregar-se; viver com total normalidade; não pensar no assunto; acomodar-se à situação; não querer que passe rápido". Para Santandreu, aceitar significa aceitar o mal-estar, aceitar a dor, aceitar o medo, e mesmo assim esforçar-se para conseguir fazer outra coisa. Significa tentarmos ler ou entender um filme, por exemplo, apesar de estarmos a ter uma crise de ansiedade.

Leia o artigo integral na edição 838 do Expansão, de Sexta-feira, dia 09 de Agosto de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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