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Opinião

Make Angola Great Again: Angola está pronta para investimentos?

MILAGRE OU MIRAGEM?

O sucesso da cimeira foi importante, mas foi apenas o começo. O verdadeiro trabalho começa agora: materializar as intenções, remover barreiras e construir confiança. É esse o percurso que poderá, de facto, relançar Angola como um destino atractivo para o investimento internacional de qualidade.

O sucesso da organização da recente Cimeira Empresarial EUA- -África, organizada pelo Corporate Council on Africa em Luanda, parece ter reforçado a percepção, por parte da governação angolana, de que estarão criadas as condições para relançar a parceria estratégica com os Estados Unidos, anteriormente ensaiada com a administração Biden. Contudo, importa lembrar que, actualmente, os EUA mantêm em Angola apenas um encarregado de negócios, e não um embaixador formalmente acreditado - um sinal diplomático que não pode ser ignorado.

O evento contou com a participação de aproximadamente 2.830 delegados, conforme dados avançados pelo porta-voz do evento durante um programa de debate televisivo, sem contabilizar os visitantes que diariamente acompanharam as actividades paralelas. A imprensa registou a celebração de vários acordos de parceria, bem como o lançamento de um programa de financiamento a PMEs africanas - uma iniciativa relevante, tendo em conta que as PMEs são, em muitos contextos, a principal fonte de criação de empregos, e em África não será diferente. Um dos destaques estratégicos da cimeira foi o Corredor do Lobito, para o qual foram anunciados compromissos de financiamento na ordem dos 5 mil milhões de dólares.

A realização bem-sucedida da cimeira demonstrou que Angola tem hoje capacidade logística e organizacional para acolher eventos internacionais de grande envergadura, assegurando aos participantes padrões adequados de segurança. Este é um activo reputacional importante, mas convém distinguir entre segurança para organizar eventos e segurança jurídica para atrair e reter investimento directo estrangeiro - uma questão onde Angola ainda tem muito caminho a percorrer.

Na verdade, o que os investidores procuram é previsibilidade e um sistema judicial eficiente, imparcial e célere na resolução de conflitos. Uma melhoria efectiva do funcionamento dos tribunais e da administração da justiça seria, neste sentido, uma das reformas mais estruturantes que o país poderia implementar para fortalecer o ambiente de negócios.

Parece ser entendimento da governação angolana que uma boa relação política com Washington poderá traduzir-se automaticamente num aumento de investimentos. No entanto, importa recordar que nos EUA o sector privado goza de grande autonomia em relação às orientações do poder político. Assim, mais do que procurar fortalecer exclusivamente os canais governamentais, o Executivo angolano precisa concentrar esforços no acompanhamento individualizado das empresas e delegados que manifestaram interesse concreto em investir cá.

Esse acompanhamento deverá privilegiar projectos que tenham impacto rápido na criação de emprego, especialmente para aqueles jovens com pouca qualificação, e que possam ser implementados nas infraestruturas já disponíveis - como a Zona Económica Especial e os perímetros irrigados, com destaque para o da Matala.

O Executivo deverá garantir que o processo de instalação e arranque destes investimentos decorra com o mínimo de constrangimentos administrativos e logísticos, assegurando um acompanhamento de proximidade e evitando a tradicional inércia burocrática susceptível de facilitar a corrupção. Investidores satisfeitos podem eles mesmos tornar-se nos melhores promotores de Angola junto de outros potenciais interessados.

Dado o contexto actual de restrições cambiais e de fragilidade das contas externas, o Executivo deve privilegiar investidores com perfil de longo prazo, que demonstrem interesse em reinvestir cá os seus lucros e contribuir para a diversificação da economia. Investidores orientados exclusivamente para o repatriamento rápido de capitais dificilmente ajudarão a resolver os desafios estruturais da nossa economia.

No plano diplomático, será importante que a administração angolana reajuste o seu discurso para se alinhar com as prioridades da administração Trump. O Executivo liderado por João Lourenço poderá encontrar pontos de convergência com os EUA em áreas como a diversificação económica, o combate à corrupção e a integração regional.

Curiosamente, pensamos que pode até haver espaço para uma narrativa simbólica: tal como a administração Trump popularizou o slogan "Make America Great Again", o Executivo pode assumir o compromisso de "Make Angola Great Again" (Tornar Angola Grande Outra Vez), com ambição de transformar o País numa referência no contexto africano e global. Neste esforço, o investimento americano, incluindo de grupos com experiência internacional no sector do turismo, poderá ser particularmente relevante - e talvez haja mesmo espaço para explorar oportunidades no Corredor do Lobito com grupos como a Trump Organization, um recado que precisa ser passado à Casa Branca.

O sucesso da cimeira foi importante, mas foi apenas o começo. O verdadeiro trabalho começa agora: materializar as intenções, remover barreiras e construir confiança. É esse o percurso que poderá, de facto, relançar Angola como um destino atractivo para o investimento internacional de qualidade.

Edição 833 do Expansão, de Sexta-feira, dia 04 de Julho de 2025

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