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Angola

Preço da cesta básica já custa nove vezes mais do que o salário mínimo

PREÇOS NÃO PARAM DE SUBIR

Se em Abril de 2022 o preço da cesta básica era quatro vezes superior ao mínimo dos salários mínimos, a alta da inflação do ano passado, provocada pela forte desvalorização cambial e pelo aumento da gasolina, fez disparar os preços para valores cada vez mais incomportáveis para a maioria da população.

O preço de uma cesta básica no mercado informal custa nove vezes mais do que o salário mínimo nacional, de 32.181 Kz, segundo cálculos feitos pelo Expansão com base na cesta básica definida pela UNTA - União Nacional dos Sindicatos Angolanos.

Esta cesta básica é composta por dezasseis produtos, nomeadamente arroz, feijão, carne, trigo, leite, batata, sal, açúcar, massa alimentar, óleo alimentar, peixe, coxa de frango, fuba de bombó e de milho, tomate e cebola, e é definido para um consumo mensal de uma família de seis membros.

O Expansão fez um levantamento de preços no mercado informal do Asa Branca, onde detectou que uma cesta básica com a quantidade necessária para suprir as necessidades de uma família de seis membros, à qual incluiu ainda sabão, ronda actualmente os 289.100 Kz.

Assim, nenhum dos três salários mínimos - de 32.181 Kz para o sector da agricultura, de 40.226 para os sectores dos transportes, serviços e indústria transformadora, e de 48.272 Kz para o comércio e indústria extractiva - permite aos angolanos uma alimentação digna e que cumpra as recomendações da Organização Mundial de Saúde que aponta a um consumo mínimo diário de 2.500 calorias diárias por cada pessoa.

E nem mesmo os salários mínimos que o Governo pretende propor agora no âmbito das negociações com a concertação social, que aponta a um mínimo de 50 mil Kz para as micro empresas, de 60 mil Kz para pequenas empresas, de 70 mil para médias empresas e de 100 mil Kz para grandes empresas vai conseguir suportar os custos para suprir as necessidades alimentares, às quais se juntarão outras despesas básicas como transportes e habitação, ou água e luz.

E se esses valores não chegam para comprar esses bens alimentares nos mercados informais, nos supermercados de Luanda a situação é pior. Numa ronda feita pelo Expansão, num supermercado da rede Maxi foi possível apurar que os preços de uma cesta básica semelhante à do mercado informal nunca fica abaixo dos 408 mil Kz.

São os efeitos da alta inflação do País que nunca é compensada por actualizações salariais que visem combater a perda de poder de compra. Só para se ter uma ideia, a inflação em 2023 foi superior a 20% e o Governo aumentou em apenas 5% os salários da função pública.

Para Joana Celeste, que fazia compras no mercado do Asa Branca, os preços da comida são sempre uma dor de cabeça. Contou que actualmente só faz duas refeições por dia, porque os preços estão altos e sobem todos os dias. E se para quem compra está tudo cada vez mais caro, quem vende foi obrigado a baixar a percentagem dos lucros para conseguir vender. "Todos os dias os preços alteram, mas não descem. Estamos a vender para ganhar 100 Kz. A vida está muito difícil", lamentou a comerciante Delfina.

Conforme o memorando do Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) a que o Expansão teve acesso, o sucesso da fixação da remuneração mínima nacional também passará pela redefinição daquilo que é a cesta básica, sendo que o que existe actualmente passa por declarar que existem oito tipos tipo de cabazes de compras mensais básicas. Ou seja, não há uma única cesta básica definida para as famílias angolanas, o que acaba por impedir estratégias que definam melhor eventuais ajustamentos salariais e outras questões que visem combater a fome das famílias angolanas.

O INE "trabalha" com dois tipos de cesta básica, um com 64 produtos e outro com 15 produtos alimentares. A UNTA utiliza uma cesta básica composta por 16 produtos.

Leia o artigo integral na edição 768 do Expansão, de sexta-feira, dia 22 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)